Luciano: 'Tarefa do PCdoB hoje é preparar as eleições de 2012'

Na terceira e última parte da entrevista que concedeu ao programa Em Off, da TV Estação Sat, o deputado Luciano Siqueira (PCdoB) comenta as divergências entre João Paulo e João da Costa, a estratégia do seu partido para as eleições de 2012 e as metas de crescimento da legenda comunista em Pernambuco e no Brasil.

MÁRIO NETO – Como o PCdoB tem acompanhado as divergências entre o ex-prefeito João Paulo e o atual prefeito, João da Costa?

LUCIANO SIQUEIRA – Com apreensão e de maneira muito solidária para com ambos. Nós somos aliados do prefeito João da Costa e o apoiamos nas eleições, e somos amigos íntimos do ex-prefeito João Paulo, nosso companheiro de lutas. Quando fui deputado na década de 1980, ele era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco e participamos de muitas greves, inúmeros piquetes de greve, movimentos de trabalhadores, e estabelecemos uma relação de amizade e respeito mútuo.

Lamentamos muito esse distanciamento entre ambos. Até porque, e o telespectador há de compreender o que vou dizer, fui vereador recentemente e como vereador debati, apresentei emendas e votei no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que são duas peças que o prefeito tem obrigação de submeter à Câmara Municipal. Quando se discutem essas duas peças, se vê claramente que o prefeito João da Costa, do ponto de vista das grandes linhas de governo, dá continuidade ao governo João Paulo. Claro, com inovações e elementos novos, pois a realidade está em permanente mutação.

Por essa razão, é incompreensível que o atual prefeito e o ex-prefeito tenham se distanciado, sendo que as verdadeiras razões desse distanciamento nunca vieram a público, os dois valorosos companheiros nunca disseram à opinião pública o que motivou esse afastamento. Isso é ruim, e nós que somos aliados do PT desejamos ver o PT unido como os demais partidos da Frente Popular.

Nós vivemos um momento em Pernambuco de grandes realizações, de grandes conquistas, e é do interesse dos 15 a 16 partidos da Frente Popular que a gestão comandada pelo prefeito João da Costa possa se desenvolver plenamente, que ele realize esse mais de R$ 1 bilhão de investimentos e obras físicas na cidade para o bem da população, assim como que o PT se apresente unido para as próximas eleições.

Por que não se cria uma tropa de choque para acabar com esse impasse?

LS – Porque é um assunto interno do PT e o bom senso recomenda que assuntos internos de um partido seja objeto de discussão no próprio partido. Mas, naquilo que depender do PCdoB, nós faremos o possível para que João Paulo e João da Costa se entendam, o PT se una e nós possamos marchar juntos, seja na reeleição do prefeito João da Costa, se ele tiver essa pretensão e se estiver bem avaliado e bem sintonizado com o sentimento da população, seja em torno de outro candidato que nos una. A unidade da Frente Popular é a pedra de toque da viabilidade de uma candidatura.

Esse impasse é uma ameaça à reeleição de João da Costa ou a outra candidatura do PT nas eleições do próximo ano?

LS – É um fator complicador. Só no PCdoB, sou militante desde 1972. Desde que saí da cadeia, quando fui preso político durante o regime militar, em 1978, eu acompanho a vida política de Pernambuco e, nessa trajetória, nunca vi a desunião resultar em vitória, a vitória sempre está associada à unidade. Por isso, ficamos apreensivos e na parte que nos toca e aos demais partidos da Frente Popular todos desejamos que se crie um clima favorável para que, a partir de janeiro do ano que vem, nós possamos discutir as eleições majoritárias e possamos marchar juntos.

Mas, informalmente o PCdoB não tem discutido essa questão? Como amigo pessoal de João Paulo e amigo de João da Costa, o senhor não tem conversado com os dois?

LS – Sim. Nós do PCdoB conversamos, mas cuidadosamente. Evitamos tratar desse assunto até por uma questão ética, de bom senso.

Eles não aceitam discutir isso?

LS – Eles não criam nenhuma dificuldade para discutir qualquer assunto conosco, mas nós é que preferimos evitar, digamos assim, abordar um assunto que eles próprios não tornaram conhecido da opinião pública. Nós achamos que depende deles e do PT superar essas dificuldades e marcharem unidos seja qual for o projeto eleitoral que venha ser apoiado ou aprovado pela Frente Popular no ano que vem.

O PCdoB vai continuar na coligação, vai lançar candidato, o que está se pensando?

LS – Neste momento, o PCdoB no Brasil inteiro tem como uma de suas tarefas principais preparar o partido para as eleições 2012, com foco nas eleições de vereador. Nós estamos montando nossa chapa própria de candidatos a vereador com militantes que já são do partido e com homens e mulheres que ainda não são do partido, mas que ingressam no partido desejosos de construir uma experiência eleitoral, porque simpatizam com o programa, aceitam o Estatuto e o modo como nós cuidamos das eleições.

Então, queremos fazer chapas competitivas para as Câmaras Municipais e deixamos para debater as eleições de prefeito só o ano que vem, quando o cenário tiver mais claro, inclusive nas cidades que já governamos e nos municípios que nós pretendemos ter candidatos a prefeito. Preferimos só abrir a discussão em torno da unidade, em torno de nomes, a partir de janeiro ou fevereiro do ano que vem.

Hoje o PCdoB de Pernambuco tem quatro prefeitos, 42 vereadores, a deputada federal Luciana Santos e você na Assembleia Legislativa. O que fazer para atrair novos militantes, novos simpatizantes, a juventude, por exemplo, para renovar, dar oxigênio?

LS – Duas coisas. Uma é caminhar no dia a dia com o programa na mão e o sorriso nos lábios; a outra é continuar participando ativamente da luta do povo, da luta estudantil, comunitária, sindical, do debate de ideias nos ambiente em que as ideias são debatidas e sempre de braços abertos para todo aquele ou aquela que deseje fazer parte do partido. Nós temos hoje no Brasil 240 mil militantes e estamos cogitando chegar às eleições de 2012 com 400 mil militantes ativos e isso significa também a força eleitoral, significa a possibilidade de ter renovação partidária. Esse é um elemento que nós é muito caro.

A cada quatro anos, o partido faz seu Congresso, que é um debate que duram três meses, começando na base. Na plenária final do congresso, em geral, nós renovamos a direção substancialmente colocando inclusive jovens militantes que vem da luta estudantil, da luta sindical e de outros segmentos da sociedade. Ainda inexperientes, porém, com talento e vontade para oxigenar a direção partidária, independentemente de considerar o desempenho daquele dirigente que deu lugar ao novato, exatamente para renovar. Sempre porque a experiência tem demostrado que a construção de um partido como o nosso é produto dessa mescla entre os mais experientes e os jovens que estão iniciando agora, que trazem a sede de aprender e a vontade de inovar.

Qual a estratégia para concretizar a meta de 400 mil militantes em um ano?

LS – Nós vamos realizar até o mês de junho o que chamamos de conferências municipais e a conferência estadual; em outros partidos chamam de convenção. O que é isso? Em nosso partido a conferência começa na base, que debate o mesmo tema no País inteiro, aplicado às atividades locais, e desse debate participam os militantes, filiados e aqueles interessados em conhecer o partido. Esse é um movimento que geralmente faz agregar mais gente ao partido.

Outro movimento que agrega muita gente ao partido é o curso das lutas. Durante uma luta, uma campanha salarial, um movimento de estudantes, se discute não só a pauta de reinvindicações, mas os problemas do País e nesse processo de discussão há sempre um segmento, um setor de estudantes, trabalhadores, representantes sindicais, intelectuais que se interessa pela discussão dos problemas do País, se aproxima e ingressa no partido.

Então, o senhor acredita que é possível alcançar essa meta?

LS – É possível sim, inclusive, com a presença muito grande de evangélicos, padres, que são membros do PCdoB, e capilarizam também a discussão que o partido levanta.

Alguém poderia dizer que isso é incoerente, pois o partido é comunista…

LS – Para ser membro do PCdoB basta apoiar o programa, aceitar o estatuto e dar uma contribuição financeira mensal, segundo as possibilidades de cada um. Se tem ou não religião é questão de foro íntimo de cada um e o partido respeita. É uma questão filosófica e cultural, é parte da vida do povo brasileiro e é a escolha de cada um. Os critérios de militância que devem ser respeitados são: o compromisso de sempre trabalhar pela unidade do partido e levar à prática a orientação que o partido adota. É por isso que estamos em ambientes de cultos afros, nas igrejas, estamos em toda parte.

Para encerrar, quero dizer aos cidadãos e cidadãs que participem da vida política do País, não veja apenas o noticiário, tenha opinião, tome partido, faça suas escolhas, porque é com a participação do povo brasileiro que nós podemos transformar o Brasil em um País realmente progressista, independente, soberano, que seja realmente motivo de orgulho para os brasileiros.

Fonte: Site do Luciano Siqueira