L´Humanité: Paris em festa pela resistência e pela mudança

É um engano pensar que a festa do jornal L´Humanité envolve apenas os comunistas franceses. Na verdade tornou-se uma tradição há 81 anos, criada em 1930 por Marcel Cachin, diretor do jornal L´Humanité. Por Ana Rocha*

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Segundo os organizadores é a maior festa da França, que dura três dias (16, 17 e 18 de Setembro) com uma grande diversidade de eventos. Esta festa de 2011 foi palco de mais de 100 debates, mais de 50 shows, presença de 80 países, 450 stands.

A circulação de mais de 500.000 pessoas indica que esta festa é um importante evento político e cultural, conhecido da população francesa. Os cartazes de divulgação da festa fixados nas galerias do metro de Paris tornam-na parte da programação da cidade.

Como afirmou Jacques Fath, Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Francês-PCF, a festa do L´Humanité ocorre no final do período de férias e início do ano letivo e das atividades políticas. É o momento em que a frente de esquerda apresenta seu programa e suas propostas para o próximo período eleitoral, onde terá o candidato à presidência da República, Jean-LucMelenchon.

Foi no comício de encerramento da festa que o presidente do PCF, Pierre Laurent, apresentou o programa da frente e seu candidato com determinação de vencer, lançando o apelo “sejam de esquerda”. “E esse apelo foi contextualizado quando se referiu ao debate dos candidatos nas eleições primárias em que foi dada a seguinte resposta ao PS e ao PV: “Há trinta anos que vocês nos dizem:” não sejam tão dogmáticos”. Nós não somos mais. Há vinte anos que vocês nos dizem: “sejam mais democráticos”. Nós o somos. Há dez anos que vocês nos dizem “sejam ecologistas”. Nós o somos. Hoje, eu vos digo: Sejam de esquerda. Foi também dentro desse apelo que o candidato LucMelenchon foi fortemente aplaudido ao dizer: “Quando se é de esquerda, se vem à festa do l´Humanité”.

Na abertura do espaço “Village du Monde”, o diretor do jornal l´Humanité, Patrick lê Hyaric, também deu o tom dos debates da festa ao dizer que ela seria marcada por seu programa cultural e artístico com uma exposição sobre a Comuna de Paris (que faz 140 anos), por uma “Village du livre” (um espaço do livro), espaço de teatro e esporte, por grandes shows, como o de Joan Baez, que cantou há 40 anos nesta festa, símbolo da resistência democrática. Sobretudo por debates sobre a crise, por uma outra Europa, pela compreensão das revoltas árabes, pela criação do Estado Palestino, pela esperança na América Latina, dentre outros. A três meses das eleições presidenciais e legislativas na França, a festa, disse Patrick, também seria o espaço para o debate daqueles que procuram os meios de mudar o poder. E nesse sentido, seria forte a presença da Frente de Esquerda com seus candidatos e programa.

Realmente a festa chama atenção pela presença em massa dos franceses, sobretudo da juventude, o maior destaque de participação. A marca do PCF por todo o lado e, sobretudo, a propaganda da frente de esquerda, revelando a campanha presidencial em curso. O debate da crise do capitalismo, a defesa da Palestina, as revoltas árabes e a curiosidade sobre a nova realidade na América Latina, como fator de esperança para os povos, saltaram à vista no espaço da festa.

O PCdoB esteve presente no debate sobre a América Latina: Avanço ou Refluxo das Forças Progressistas. Participaram desse debate no “Village du Monde”, Ana Rocha, pelo PCdoB, Obey Ament, pelo PCF, Pablo Groux, embaixador da Bolívia, Shimy Ayrieta, pela Venezuela, e Salete pelo MST. O PCdoB também teve um estande na festa com publicações e bebidas típicas do Brasil, sob a coordenação do Beto.

Grande destaque para a Venezuela, com seu estande gigantesco com muita música e animação, mas, sobretudo, com seu espaço de debate que abordou desde a resistência da América Latina às novas pretensões do imperialismo, sobre a ALBA e a Integração Latino-americana, até o socialismo do século XXI com a participação dentre outros de Samir Amin.

Outros destaques na festa foram os estandes da Comuna de Paris, da luta pela Paz, e das “Femmes Solidaires”, organização de mulheres que promoveu debates dentre outros sobre a mulher no esporte e sobre a legalização do aborto. A questão ecológica e a questão nuclear ocuparam também espaço na festa.

Ou seja, a festa ofereceu um espaço de debate das questões e inquietações da atualidade como a saída para a crise do capitalismo, e a resistência no mundo. Uma festa que debateu o rumo para a esquerda francesa e ao mesmo tempo um espaço internacionalista, de preocupação com o mundo e de integração dos povos em luta por um mundo melhor, socialista. Tudo isso em meio a muito livro, shows, teatro, gastronomia variada e parque de diversão. Vale destacar a presença das mulheres que abriram a festa com o debate: Mulheres e política, e o próprio cartaz da festa que é uma mulher com o punho erguido.

Viva a Resistência francesa, solidária aos povos em luta, com sua cultura e alegria de viver.

*presidente do PCdoB-RJ, da Comissão Política Nacional do PCdoB. Representou o PCdoB na festa do L´Humanité, em Paris.