Colômbia: Candidato Petro é alvo de espionagem e acusa governo

Após vencer o primeiro turno com mais de 8,5 milhões de votos (40,4%), o líder progressista e sua candidata à vice, Francia Márquez, precisam agora derrotar o magnata Rodolfo Hernández, que obteve 5,9 milhões de votos (28%).

Gustavo Petro e Francia Marques estão no segundo turno pela frente progressista Pacto Histórico

Faltando dez dias para o segundo turno, o senador e ex-prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, candidato progressista à presidência da Colômbia pela coalizão Pacto Histórico, foi alvo na quarta-feira (8) do que chamou de “guerra suja”, aberta por um dos maiores conglomerados midiáticos do país, a revista Semana – equiparável editorialmente à revista brasileira Veja.

A partir de escutas ilegais colocadas dentro do seu comitê de campanha, Petro teve horas de reuniões gravadas para serem editadas e posteriormente divulgadas em cápsulas para a opinião pública com o objetivo de evitar seu favoritismo.

“A revista Semana está desesperada com o crescimento em nossas pesquisas. Estão publicando simplesmente a evidência que nos gravaram ilegalmente. Quem? Os mesmos que lhes entregaram as gravações: o governo”, afirmou Petro.

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Após vencer o primeiro turno com mais de 8,5 milhões de votos (40,4%), o líder progressista e sua candidata à vice, Francia Márquez, precisam agora derrotar o magnata Rodolfo Hernández, que obteve 5,9 milhões de votos (28%), superando o governista Fico Gutiérrez, escanteado para a terceira posição com 5 milhões (23,9%). Sem opção, o governo de Iván Duque aposta todas as suas fichas no ricaço, conhecido pela veneração a Adolf Hitler e investigado por desvio de recursos públicos para os cofres de suas empresas.

Nas gravações obtidas por espionagem aparecem discussões mais do que normais em qualquer comitê eleitoral, onde cada candidato procura se diferenciar dos demais. Numa delas, alguém fala em vincular Fico Gutiérrez ao narcotráfico. É senso comum na Colômbia a estreita vinculação dos órgãos do Estado com os poderosos cartéis da droga. Essa informação não traz absolutamente nada de novo nem mesmo em relação a Petro, que denuncia permanentemente este vínculo.

No discurso de encerramento de sua campanha Petro citou textualmente a associação: “São os principais narcotraficantes do país com os principais detentores do poder político na Colômbia. O senador se abraça com o narco, o general se abraça com o narco, o presidente se abraça com o narco, e são financiados pelo narco”. Nada de novo, portanto, mas a revista apresenta as gravações como “prova” de uma trama, na tentativa de livrar a cara do atual candidato governista.

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A campanha midiática é monocórdica e, faltando pouco mais de uma semana, eleva o tom, da mesma forma como os narcotraficantes aumentam a extensão e o rigor das suas chantagens, que já fizeram paralisar um pouco antes do primeiro turno mais de 170 das 1.100 cidades colombianas. Como o voto não é obrigatório no país, obrigar as famílias a ficarem em casa é uma forma dos governistas evitarem maiores estragos em um município oposicionista.

Na tentativa de conter a onda pró-mudanças, de uma candidatura que fala abertamente em livrar a Colômbia das amarras da dependência do petróleo, do carvão e do narcotráfico, Petro tem pela frente os interesses da engrenagem criminosa que a sustenta, em particular o sistema financeiro.

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Interesse dos rentistas

Em razão disso, o ataque parte da revista Semana, cujo dono é Jaime Gilinski Bacal, proprietário e presidente do Grupo Gilinski, um dos maiores conglomerados de empresas do país, que inclui boa parte do sistema financeiro como o Banco GNB Sudameris, Lulo Bank e Servibanca.

Às vésperas da eleição, contrário à proposta de recuperação da Previdência, exposta pelo oposicionista, o banqueiro vem investindo pesado na compra de Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs). A tática foi igual à utilizada no Chile contra Gabriel Boric pelos especuladores, que buscam em Rodolfo Hernández uma forma de perpetuar seu parasitismo.

Campanha caseira

Outro ponto que chama a atenção é o candidato governista dizer que a partir do que ouviu passou a temer pela sua vida e que não compareceria mais em atividades públicas. Como se não houvesse fugido de todas anteriormente.

Muito diferente de Petro, que – apesar de ameaças e dezenas de assassinatos de simpatizantes – discursou na praça protegido por escudos, e de Francia Márquez, que dialogou sob a mira de laser na cabeça e no coração.  

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Diante desta nova realidade, Petro conclamou a todas as organizações de direitos humanos que iniciem a investigação sobre como é possível que se tenha gravado ilegalmente as conversações dos membros do seu comitê de campanha.

A prática é conhecida nos manuais da CIA que, como alertou o professor e especialista Renán Vega, desloca diariamente 250 pessoas pelo país, ao lado de outros técnicos de inteligência e militares estadunidenses.

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