Imprensa estrangeira destaca escalada de violência política no Brasil
Percepção internacional sobre assassinato de Marcelo Arruda revela alarmismo com ódio estimulado por Bolsonaro, apontando para um processo eleitoral turbulento.
Publicado 12/07/2022 10:24 | Editado 12/07/2022 13:00
A preocupação com o clima de distúrbios que se anuncia nas eleições presidenciais no Brasil já ocupa as manchetes internacionais. O assassinato do guarda civil Marcelo Arruda por um bolsonarista, em Foz do Iguaçu, causou repercussão no mundo por envolver um dirigente petista num crime chocante. Arruda foi morto a tiros em frente a familiares em plena festa de aniversário, por motivo fútil.
Segundo a agência britânica Reuters, “a morte de Arruda é um mau presságio para as eleições gerais de outubro”. A notícia menciona as declarações de Jair Bolsonaro sugerindo que não vai aceitar o resultado das urnas, envolvendo os militares nas ameaças. O relato da agência é dos mais republicados na imprensa internacional.
A agência americana Associated Press (AP) menciona o repúdio de políticos ao assassinato. E também a acusação de Bolsonaro de que é a esquerda que incita a violência política. O relato da AP foi replicado no Washington Post, ABCNews, entre outros veículos por todo o mundo.
Leia também: Assassinato de petista foi ato fascista; não há espaço para polarização
A CNN americana fez um relato dramático do atentado. “Meu pai disse ‘Cara, saia da minha festa. Eu sou policial, saia. Deixe-me curtir minha festa em paz.’ E o cara apontou para ele e puxou uma arma e apontou para ele”, disse Leonardo, filho de Marcelo, ao noticiário norte-americano.
A reportagem mais ampla da CNN relata episódios em que Bolsonaro incitou violência contra adversários e também menciona atentados recentes contra comícios de Lula. Ainda diz que Bolsonaro citou a invasão ao Capitólio de Washington em live.
A agência árabe Al Mayadeen é enfática ao manchetar “Apoiador de Bolsonaro mata líder do PT”. Segundo o noticiário da África, Ásia e Oriente Médio, “a extrema-direita de Bolsonaro está ameaçando ativamente a vida dos líderes da oposição brasileira.” Traz imagens da festa de aniversário e noticia o artefato explosivo em comício no Rio de Janeiro.
Leia também: Lideranças no Congresso cobram punição a Bolsonaro pela violência política
O jornal californiano SFGate traz o relato da AP com fotos do caixão coberto por bandeiras do PT e da pré-campanha de Lula.
O jornal espanhol El País escreveu que um “líder do PT” foi morto a “a tiros pelas mãos de um bolsonarista”. “Marcelo Arruda, tesoureiro do partido de Lula, comemorava seu aniversário quando o assassino invadiu sua festa gritando “aqui somos de Bolsonaro, filhos da puta!”, salientou o jornal.
Os jornais franceses Le Parisien e Le Figaro deram ênfase às posições políticas de Arruda e Guaranho em seus títulos. O Le Parisien escreveu que um “ativista petista” foi morto por outro ativista “pró-Bolsonaro” e que o ex-presidente Lula atribuiu o caso ao “discurso de ódio” do capitão reformado. Na mesma linha, o Le Figaro disse que o “partido de Lula denuncia assassinato de um de seus ativistas”.
Leia também: Parlamentares culpam Bolsonaro pelo clima de ódio que vitimou petista
Na Argentina, o jornal La Nación destacou a posição ideológica do assassino, enquanto o jornal Clarín enfatizou o caso como um assassinato por “ódio e violência política”.
O alemão Neuer Zurcher Zeitung, por sua vez, noticia equivocadamente que os dois homens perderam a vida no incidente, e deixa evidente o ódio político envolvido no crime. “O presidente Bolsonaro twittou que se opunha à violência – não sem uma crítica à oposição”, disse o jornal de Zurique.
O periódico egípcio Sétimo Dia traz o seguinte título: Um policial brasileiro obcecado pelo presidente mata um membro da oposição nas eleições presidenciais. O relato baseia-se na agência Telam que afirma que o Brasil vive um estado de violência política em um cenário de eleições presidenciais e polarização entre direita e esquerda, “especialmente porque as pesquisas de opinião apoiam a vitória do ex-presidente Lula da Silva, o que enfurece os partidários do atual presidente, Bolsonaro”.
O jornal do Partido Comunista de Israel, Este é o Caminho, noticia o assassinato apontando para o risco que corre Lula nesta eleição e do aumento do seu esquema de segurança. O relato é baseado neste portal Vermelho. O jornal destaca declaração do deputado comunista Orlando Silva: “Qual o motivo do assassinato de um militante de esquerda em uma festa familiar em que ele comemorava 50 anos? Ódio político. É o ódio de apoiadores do presidente e do próprio Bolsonaro que estão por trás disto”.
Leia também: Lula defende tolerância ao se manifestar sobre petista morto por bolsonarista