Bolsonaro tenta minimizar denúncias de corrupção em seu governo

A ideia de uma gestão ilibada, carro-chefe do discurso de Bolsonaro por anos, vem se esfacelando diante da realidade

Numa nova tentativa de minimizar as diversas denúncias de corrupção que pululam em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que “se procurar, vai achar alguma coisa. O Ministério de Desenvolvimento Regional tem mais de 20 mil obras, será que está tudo certinho? Vai achar alguma coisa. Acha uma besteira qualquer”. A declaração foi dada nesta quinta-feira (21), em seu cercadinho, no Palácio da Alvorada. 

A nova busca por menosprezar os fatos de maneira que pareçam ocorrências sem importância veio poucos dias após a operação da Polícia Federal que investiga fraudes em licitações e desvios de verbas federais na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A estatal foi entregue pelo presidente aos cuidados do centrão em troca de apoio político e tem recebido milhões em emendas parlamentares. 

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Mas, esta é apenas uma das muitas denúncias que envolvem seu governo — sem falar dos problemas em torno de sua família e da “farra dos militares”. 

Para ficar apenas em alguns dos casos que vieram à luz neste ano, em junho o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou a ser preso — juntamente com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura — por suspeita de corrupção, prevaricação, tráfico de influência e advocacia administrativa no caso conhecido como “balcão de negócios do MEC”. O esquema viabilizaria a liberação de verbas para prefeituras mediante o pagamento de propinas no ministério. Vale lembrar que o Ministério Público Federal (MPF) identificou interferência do presidente Jair Bolsonaro nas investigações. 

Em março, quando foi denunciado o favorecimento de pastores neste esquema, Bolsonaro declarou: “Se o Milton estivesse armando não teria colocado na agenda aberta ao público. O Milton, eu boto minha cara no fogo por ele”. 

Mais tarde, quando da prisão de Ribeiro, Bolsonaro disse: “No governo, não temos nenhuma corrupção endêmica. Tem casos isolados que pipocam e a gente busca solução para isso”.

Cerca de um mês antes, em maio, veio à tona o caso da distribuição de caminhões de lixo — sob critérios duvidosos, para pequenas cidades — que saltou de 85 veículos para 488 de 2019, primeiro ano do mandato de Bolsonaro, até 2021.

Outra denúncia envolvendo a área da educação foi tornada pública em abril: uma licitação bilionária do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a compra de ônibus escolares com preços inflados.

Durante a CPI da Covid, outros indícios graves de corrupção foram levantados. Um deles apontava que o governo aceitou negociar a compra da vacina indiana Covaxin por um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante meses antes. 

De fato, no governo Bolsonaro, se procurar direitinho, sempre se acha “alguma coisa” ou “uma besteira qualquer”. 

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