Criação do Pix por Bolsonaro é novamente desmentida

Presidente e apoiadores têm tentado capitalizar implantação da modalidade de transferência, mas cada dia fica mais evidente que isso não é verdade

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

O apreço de Bolsonaro pela desinformação é uma marca em sua vida pública. E parece que quanto mais pressionado, mais ele apela para a mentira. Com a proximidade das eleições, vendo seu principal adversário crescer e se consolidar na dianteira e preocupado com a ampliação dos movimentos pró-democracia, o presidente (e seus apoiadores) volta sua artilharia de fake news para o Pix. E volta a ser desmentido. 

Bolsonaro vem tentando desqualificar a adesão de banqueiros a manifesto em defesa da democracia e do sistema eleitoral argumentando que seria uma retaliação à implantação do Pix — que ele advoga como se fosse uma ação do seu governo. 

“Você pode ver, esse negócio de carta aos brasileiros, à democracia, os banqueiros estão patrocinando. É o Pix que eu dei a paulada neles, os bancos digitais também que nós facilitamos”, declarou o presidente a apoiadores na quinta-feira (28).

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Seguidores e políticos ligados a Bolsonaro têm repetido este discurso e, agora, um tuíte feito por um youtuber bolsonarista em apoio à suposta iniciativa do presidente foi desmentido — assim como o discurso do presidente sobre o tema — pelo projeto Comprova, coalizão de jornalistas que checa o noticiário, identificando o que é fato e o que é fake. 

Pix não foi criado por Bolsonaro

Conforme já fartamente noticiado, o conceito que gerou o Pix começou a ser desenvolvido ainda em 2016, mas ele foi sendo implantado a partir de 2018. Em maio daquele ano, o Banco Central, instituiu um grupo de trabalho sobre pagamentos instantâneos.

Naquele momento, conforme o Comprova, cerca de 130 instituições, entre associações representativas, instituições bancárias, instituidores de arranjos de pagamento, instituições de pagamento, cooperativas, entidades governamentais, infraestruturas do mercado financeiro, fintechs, marketplaces, consultorias e escritórios de advocacia, participaram das discussões.

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Em nota, o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Banco Central, Fábio Faiad, destacou que “tal sistema de pagamento instantâneo foi criado e implementado pelos analistas e técnicos do Banco Central do Brasil, ou seja, por servidores concursados de Estado, não pelo atual governante ou qualquer outro governo”. 

O dirigente sindical apontou ainda que o Pix não constava das propostas de Bolsonaro, nem tampouco teve apoio do presidente que, aliás, ajudou a dificultar sua implementação uma vez que vem reduzindo o orçamento do BC desde 2019. 

“Não tomei conhecimento”

Vale lembrar ainda que quando o Pix foi lançado, em 16 de novembro de 2020, Bolsonaro sequer sabia do que se tratava. No cercadinho do Planalto, ao ser elogiado por um apoiador pela medida, o presidente reagiu como se o Pix fosse algo relacionado à aviação. Depois, admitiu que desconhecia: “Não tomei conhecimento, vou conversar esta semana com o Campos Neto [presidente do Banco Central]”. 

Outro ponto importante é que, ao contrário do que diz o presidente, os bancos seguem tendo lucros astronômicos mesmo com a crise e com o Pix. Se inicialmente pode ter havido algum prejuízo, logo as instituições criaram formas, claro, de ganhar dinheiro com a nova modalidade de transferência. 

Em 2021, por exemplo, os quatro maiores bancos do país acumularam o maior lucro desde 2006: R$ 81,6 bilhões. E somente neste ano, o lucro dessas mesmas instituições já somam R$ 24,3 bilhões. 

Além dessa fake news, tem sido divulgado pelos bolsonaristas que Lula teria a intenção de acabar com o Pix. Em tuíte recente, a equipe do ex-presidente postou: “A família Bolsonaro inventou que Lula quer acabar com o Pix. É fake! Quem não sabe sobre o Pix é o próprio Bolsonaro, que em 2020, quando o sistema era implementado, disse que nem sabia o que era”. 

Em março, a mentira já corria pelas redes e na ocasião o Instituto Lula destacou: “Lula nunca suspenderia o Pix. Afinal, ele sempre apostou nas políticas de inclusão das pessoas mais pobres na economia no centro de seus esforços. O ex-presidente quer mais dinheiro circulando na mão — e na conta — de todo mundo, sobretudo dos mais pobres”.