Encontro de todos os poderes e 27 governadores reafirma força da democracia no Brasil

Reunião histórica reforça a democracia e a institucionalidade, rechaça as tentativas golpistas e isola ainda mais o bolsonarismo

Presidente Lula em reunião com governadores. Foto: Fábio Rodrigues/Agência Brasil

Um encontro histórico em defesa da democracia. Assim pode ser classificado o encontro que reuniu em torno do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva os governadores ou vice-governadores de todos os 27 estados, a presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado em exercício, Arthur Lira e Veneziano Vital do Rego, respectivamente.

O evento aconteceu na noite desta segunda-feira (9), no Palácio do Planalto e, além de mostrar solidariedade e compromisso com a democracia, foi um repúdio uníssono à tentativa de ruptura institucional provocada pelos atos terroristas que destruíram os três palácios que abrigam os poderes da República no domingo (8). Isolou ainda mais os bolsonaristas e fortaleceu a unidade em torno da Constituição.

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O encontro foi planejado pelo presidente do Fórum dos Governadores, Helder Barbalho (PA) que abriu a reunião, ressaltando o pacto federativo e reafirmando que os governadores estarão sempre ao lado da democracia. “É importante ressaltar que este fórum [de governadores] se reúne respeitando as diversas matizes políticas que compõem a pluralidade ideológica e partidária do nosso país, mas todos têm uma causa inegociável, que nos une: a democracia”, destacou, representando os governadores da Região Norte.

Falaram cinco governadores em nome das cinco regiões do país. “Essa reunião de hoje significa que a democracia brasileira vai se tornar, depois dos episódios de ontem, ainda mais forte”, disse o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, em nome da Região Sudeste.

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A governadora Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, falou da indignação com as cenas de destruição dos maiores símbolos da democracia republicana do país e pediu punição aos golpistas. “Foi muito doloroso ver as cenas de ontem, a violência atingindo o coração da República. Diante de um episódio tão grave, não poderia ser outra a atitude dos governadores do Brasil, de estarem aqui hoje. Esses atos de ontem não podem ficar impunes”, afirmou, em nome da Região Nordeste.

Pela Região Sul, coube ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, destacar algumas das ações conjuntas deflagradas pelos estados, como a disponibilização de efetivos policiais para manter a ordem no Distrito Federal e desmobilização de acampamentos golpistas nos estados. “Além de estar disponibilizando efetivo policial, estamos atuando de forma sinérgica em sintonia para a manutenção da ordem nos nossos estados”.

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A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, disse que o governo da capital “coaduna com a democracia” e lembrou da prisão, até o momento, de mais de 1,5 mil pessoas por envolvimento nos atos de vandalismo. Celina Leão substitui o governador Ibaneis Rocha, afastado na madrugada desta segunda, por decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ela aproveitou para dizer que o governador afastado “é um democrata”, mas que, “por infelicidade, recebeu várias informações equivocadas durante a crise”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, assegurou que os parlamentares votariam por unanimidade e simbolicamente a aprovação do Decreto que determinou a intervenção no Distrito Federal, o que efetivamente aconteceu minutos depois da reunião finalizar. “Nós votaremos simbolicamente, por unanimidade, para demonstrar que a Casa do povo está unida em defesa de medidas duras para esse pequeno grupo radical, que hostilizou as instituições e tentou deixar a democracia de cócoras ontem”.

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Também se pronunciaram no ato, o presidente da Procuradoria Geral da República (PGR), Augusto Aras e do Fórum Nacional de Prefeitos, Edivaldo Nogueira. Além do ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino que fez um balanço geral das ações, sintetizando as medidas tomadas para contenção dos atos golpistas e de vandalismo ocorridas no domingo.

Reunião histórica

Em discurso aos governadores, o presidente Lula agradeceu pela solidariedade prestada e fez duras críticas aos grupos envolvidos nos atos de vandalismo.   

“Vocês vieram prestar solidariedade ao país e à democracia. O que nós vimos ontem foi uma coisa que já estava prevista. Isso tinha sido anunciado há algum tempo atrás. As pessoas não tinham pauta de reivindicação. Eles estavam reivindicando golpe, era a única coisa que se ouvia falar”, disse.

O presidente também voltou a criticar a ação das forças policiais e disse que é preciso apurar e encontrar os financiadores dos atos democráticos. “A polícia de Brasília negligenciou. É fácil a gente ver os policiais conversando com os invasores”.

Lula recordou que a justiça brasileira foi duramente ameaçada, atacada e ofendida nestes últimos anos. Que na época da ditadura militar, quem ousou ser contra o regime, foi preso, torturado e morto. “O que acontecia com quem ousasse falar de derrubar o governo? Quantos morreram por não concordar com o governo?”, questionou o presidente.

Lembrou que, logo após o resultado eleitoral, os golpistas foram para as portas dos quarteis não só em Brasília, mas em outros estados, como o Rio de Janeiro, e ficaram livremente reivindicando o golpe. Ele questionou o financiamento desses acampamentos que ocorrem ao longo de mais de três meses. O presidente defendeu uma apuração dura e rigorosa para descobrir os financiadores dos golpistas e que todos sejam responsabilizados.

“Precisamos apenas respeitar e aprender a conviver na diversidade. A democracia obriga a gente a conviver quem a gente não gosta, mas é o único regime que todos podem disputar e governar. Não vamos ser autoritários, mas não seremos mornos, vamos investigar e vamos descobrir”, defendeu.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, disse que as investigações em curso devem resultar em novos pedidos de prisão preventiva e temporária, principalmente contra os financiadores.

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A ministra Rosa Weber, presidente do STF, também enalteceu a presença dos governadores em um gesto de compromisso democrático com o Brasil. “Eu estou aqui, em nome do STF, agradecendo a iniciativa do fórum dos governadores de testemunharem a unidade nacional, de um Brasil que todos nós queremos, no sentido da defesa da nossa democracia e do Estado Democrático de Direito. O sentido dessa união em torno de um Brasil que queremos, um Brasil de paz, solidário e fraterno”.

Visita ao STF

A ministra Rosa Weber garantiu que o prédio estará pronto para reabertura do ano judiciário, em 1º de fevereiro. Após a reunião, em um ato de solidariedade ao prédio mais atingido pelas depredações, as autoridades presentes caminharam até a sede do Supremo, a convite da presidenta Rosa Weber, para verem o estrago deixado pelos golpistas na sede da Justiça.

Com informações da Agência Brasil

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