Denúncias de corrupção desidratam Flávio Bolsonaro para Prefeitura do Rio

Fragilidades do senador para segurar uma bandeira de combate à corrupção, expõem disputa interna no PL e crise do bolsonarismo

O clima que parecia sereno, há um mês, ficou nebuloso e cheio de trovoadas nos últimos dias. Conforme os Bolsonaros são mergulhados em revelações diárias de corrupção e outras ilicitudes, o futuro da família no Partido Liberal (PL) vai criando rachas internos. Segundo reportagem do Estadão, o grupo político do senador Flávio Bolsonaro passa por dificuldades na definição de sua candidatura contra o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), em 2024.

Nos últimos dias, a imprensa e as redes sociais estão flodadas [inundadas] de denúncias de fraude no cartão de vacinação de Jair Bolsonaro, o pai, foram retomadas as investigações sobre rachadinha no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o irmão, e uma possível inelegibilidade do ex-presidente. Sem mencionar o gigantesco desgaste das joias contrabandeadas dos Emirados Árabes. Assim, o partido vai levantando nomes alternativos e menos controversos.

Alternativas ao bolsonarismo

Embora o senador conte com o apoio público do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, outras alas do partido resistem e sugerem nomes menos controversos para agregar uma candidatura em torno de PL, PP, União Brasil e Republicanos.

Pelo menos três setores no PL disputam a futura indicação do partido para a eleição carioca. Um é liderado pelo comando nacional (de Costa Neto), e sua preferência por Flávio, outro, por dirigentes locais do partido, que preferem o candidato a vice-presidente em 2022, Walter Souza Braga Netto e um terceiro é mais próximo ao governador Cláudio Castro (PL-RJ), que considera o atual secretário estadual de Saúde, Dr. Luizinho, presidente do PP no Rio, o melhor nome no embate com o atual prefeito.

O deputado federal e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, e o general da reserva Braga Netto, são nomes que poderiam dificultar um retorno do ex-presidente à cena política. O xadrez de Bolsonaro tem que considerar o que cada quadro de seu partido tem a subtrair de seu legado em controvérsias. Apesar de ter sido o segundo deputado mais votado do Rio, Pazuello está associado à política desastrosa da pandemia no governo Bolsonaro, e Braga Netto vai ter que dar conta dos vínculos com o movimento de acampados que culminou na tentativa de golpe de 8 de janeiro. 

Durante um evento recente do PL-RJ, Costa Neto sinalizou apoio irrestrito à candidatura de Flávio, avaliando que a recuperação nacional do partido pode vir em 2024, com a eleição do prefeito.

Por outro ponto de vista, caso se torne o prefeito, o senador passa sua vaga a Paulo Marinho, que rompeu com os Bolsonaros. O empresário carioca chegou a comparecer a um evento de campanha de Lula e declarou voto no petista. No evento, Marinho afirmou que “quem conhece o Bolsonaro, como eu conheço, vota no Lula” e disse estar pagando uma “penitência” por ajudar Bolsonaro a alcançar a Presidência.

Embora os Bolsonaros e seu grupo político no PL façam declarações sobre a eleição municipal, caciques do partido, como o governador Cláudio Castro buscam se afastar do bolsonarismo. São políticos que tentam demonstrar aos aliados a eficácia do Dr. Luizinho.

O governador ameaçou deixar o partido caso o presidente estadual Altineu Côrtes não considerasse suas opiniões nas decisões da sigla. Com isso, Castro ampliou sua influência nas decisões da cúpula estadual.

A prova de fogo para o bolsonarismo

Há ainda quem acredite que Flávio é o “único” capaz de derrotar Paes. “Hoje, a decisão da direção do partido é nesse sentido. Precisamos de alguém que tenha uma experiência administrativa. Temos outros bons nomes no partido, mas o senador Flávio é a melhor opção”, afirma o deputado estadual Alan Lopes.

Flávio foi eleito senador em 2018, na onda bolsonarista que também elegeu seu pai, com 4.380.418 de votos. Para efeito de comparação, Romário foi eleito senador pelo PL, em 2022, com 2.240.045 votos. Com menos de um milhão e meio de votos cariocas, Paes foi eleito prefeito em 2020.

No entanto, não se deve subestimar o sucesso eleitoral de Paes, que pode seguir para um quarto mandato. Ele tem a máquina de governo, o apoio do governo federal, aproximação com o governador, e aposta nos eventuais apoios que pode receber da centro-esquerda. Tudo isso se soma ao desgaste moral dos Bolsonaros.

Os redutos eleitorais de Bolsonaro são encontrados justamente entre conservadores e militares no Rio e na Baixada Fluminense. Um eleitorado que, desde sempre, foi capturado pelo discurso anticorrupção e em defesa do fortalecimento das polícias e agentes de segurança pública. O Rio continua profundamente marcado por estes temas, que deverão ocupar o marketing da próxima campanha eleitoral do PL.

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