Protesto marca os três anos da morte do menino Miguel

Manifestação acontece em frente ao prédio em que Miguel caiu após ser abandonado por Sarí Corte Real; ato também vai ao Tribunal de Justiça de Pernambuco para exigir justiça

Imagem: Arte/Agência Brasil

Em 2 de junho de 2020, o menino Miguel Otávio morreu com 5 anos de idade. Como forma de homenageá-lo e pedir por justiça uma manifestação acontece nesta sexta-feira (2), quando se completa três anos de impunidade de uma situação que revelou a face do racismo tão presente no cotidiano nacional, mas que muitos tentam esconder.

O menino Miguel caiu do nono andar de um edifício de luxo no Recife (PE) após ser abandonado em um elevador por Sarí Corte Real, ex-patroa de Mirtes Renata Santana, a mãe do garoto.

O ato acontece em frente ao prédio onde o crime ocorreu, próximo ao Píer Maurício de Nassau (conhecido como Torres Gêmeas), no Centro do Recife.

Com a presença da mãe e da família de Miguel, a manifestação seguirá até o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

Impunidade

Condenada a oito anos e seis meses de reclusão por abandono de incapaz, Sarí Corte Real, recorre da decisão em liberdade em um processo que está em segredo de justiça. O TJPE não esclareceu os motivos do processo correr em segredo de justiça, o que causa estranheza no mundo jurídico.

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Na época dos fatos, o marido de Sarí, conhecido como Sérgio Hacker, era prefeito da cidade de Tamandaré (PE), distante cerca de cem quilômetros de Recife.

O acontecimento trágico fez com que a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) promulgasse a “Lei Miguel”, em que crianças até 12 anos são proibidas de utilizar elevador desacompanhadas de adultos.

Racismo

Para a reportagem da Agência Brasil, Mirtes aponta que os acontecimentos da morte são permeados pelo racismo.

“Eu não enxergava o racismo. Depois que eu passei por um período de formação política, comecei a trabalhar em duas organizações parceiras. Eu vi realmente que houve racismo no caso do meu filho. Infelizmente, o judiciário não enxerga que houve racismo, inclusive para me acusar”, lamenta Mirtes, que chegou ter investigação aberta contra ela pelo juiz José Renato Bizerra, titular da 1ª Vara dos Crimes contra a Criança e o Adolescente de Recife, com base na sentença que condenou Sarí.

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Em 2021, em entrevista ao Brasil de Fato, Mirtes, que agora é estudante de Direito, disse: “Depois de tudo isso que aconteceu eu fui estudando, fui obtendo conhecimento e tive noção de que tudo o que aconteceu comigo, minha mãe com meu filho foi racismo. O racismo está tão entranhado dentro da sociedade que às vezes a gente não percebe isso. Nós, mulheres negras, somos a maioria no trabalho doméstico e a empregada doméstica passa por situações muito difíceis. Eu peguei covid-19 e mesmo doente eu estava trabalhando. Não me liberaram pra ficar em casa, nem eu, nem minha mãe e nem meu filho”.

No dia do falecimento de Miguel, ela teve que levar o filho para o trabalho porque a creche estava fechada em função da pandemia. A mãe de Mirtes e avó de Miguel, Marta Santana, também trabalhava na residência.

*Edição Vermelho, Murilo da Silva.

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