Plano de Transição Ecológica dever ser “grande marca” de Lula, diz Haddad

Ministro da Fazenda avalia, ainda, que Brasil poderá inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento e que reforma tributária terá reflexos positivos antes mesmo de ser implantada

Haddad toca trecho de música dos Beatles. Foto: reprodução/Youtube

Em entrevista que foi dos desafios colocados para a recuperação do país a uma palinha de “Blackbird”, dos Beatles, no violão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad falou sobre o contexto econômico nacional, articulação no Congresso, os embates com o Banco Central e anunciou que está sendo gestado um Plano de Transição Ecológica. Para ele, a marca do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será a questão socioambiental. 

O bate-papo, com a jornalista Natuza Nery, ocorreu nesta segunda-feira (10), na sede do Ministério da Fazenda, e foi veiculado no podcast O Assunto. 

“Temos a perspectiva de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento no Brasil, mas não apenas para fazer o PIB crescer — isso é essencial —, mas para enfrentar os desafios sociais e ambientais que estão à nossa frente. Quando se fala em sustentabilidade fiscal, sempre digo que a fiscal é a social e a ambiental. Essa matriz é que vai dar conforto às famílias brasileiras de poder legar às próximas gerações um país muito melhor”, disse Haddad. 

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Durante a entrevista, ele afirmou que na última sexta-feira (7) foi apresentado ao presidente Lula um Plano de Transição Ecológica. Haddad acredita que esta poderá ser a “grande marca” desse terceiro mandato. 

“Tinha uma estrutura do Ministério da Fazenda trabalhando em silêncio para mapear todas as oportunidades que o Brasil tem, com vantagens competitivas em relação ao mundo, para modernizar nossa infraestrutura produtiva. Isso vale para infraestrutura, para geração de energia limpa, para a atração de investimentos estrangeiros que queiram fazer produtos verdes e transformar isso numa marca do Brasil, o combate ao desmatamento, as energias eólica e solar, o hidrogênio verde, biocombustíveis, marco regulatório da mineração, tudo que você possa imaginar”, explicou. 

Os detalhes do plano estão sendo delineados, conforme apontado na entrevista, mas segundo o ministro, a proposta deverá ter cerca de cem ações a serem desdobradas em quatro anos. “Só fiz essa revelação porque senti da parte dele (Lula) um entusiasmo muito grande”, acrescentou. 

O ministro disse, ainda, ver a “a reforma tributária, o marco fiscal e o Plano de Transição Ecológica como o mesmo desenho de um novo Brasil”. Só a reforma tributária, apontou, terá “impacto entre 0,5% e 1% ao ano de crescimento do PIB”. 

Reforma Tributária

O ministro Fernando Haddad também argumentou que os reflexos da reforma tributária incidem desde já no cenário econômico nacional, embora sua implantação, após passar pelo Senado, será iniciada em 2026 e finalizada em 2033. “Do ponto de vista de decisão de investimento, começa agora. Muita gente vai olhar para o Brasil e vai falar: ‘agora dá para confiar neste país’. Porque o sistema tributário vai melhorar e não piorar como vem piorando ao longo dos últimos 40 anos”. 

Essa mudança de sinal, acrescentou, “atrai investimento porque quem vai investir no Brasil está pensando em 20, 30, 40 anos. Ninguém bota 10 bilhões de dólares num país esperando retorno em cinco anos”. 

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Ao tratar das articulações que levaram a vitórias importantes no Congresso Nacional, como a própria reforma tributária, o marco fiscal e as mudanças no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), salientou: “Isso é a volta da política, com P maiúsculo. A política é para produzir os melhores resultados. Quando a política não está produzindo os melhores resultados é porque ela está sendo mal feita”. 

Sobre a irritação que causou ao ex-presidente Jair Bolsonaro a foto de Haddad com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o ministro declarou: “Eu não estava ‘do lado do Tarcísio’. Sabe, é o ministro da Fazenda e o governador do estado mais rico da federação, discutindo um tema que vai ter repercussões pelas próximas décadas”.

E prosseguiu: “Imagina se eu estava preocupado com o Bolsonaro? Eu nunca… E assim, para mim, o Bolsonaro é uma pessoa preocupante pelo que ele faz, pelo que simboliza, representa. Na verdade, o país é que tem que estar preocupado com ele, não eu. (Não estou) preocupado sobre o que ele vai achar de uma foto minha com o governador de São Paulo”.

Déficit zerado em 2024

O ministro Fernando Haddad também falou sobre a meta de zerar o déficit em 2024. “A minha crença é de que sim, é possível zerar. O que nós vamos fazer? Vamos mandar a peça orçamentária e um conjunto de leis disciplinando algumas vitórias que nós tivemos nos tribunais, e outras que nunca foram disciplinadas”, além de leis de ajuste fiscal e corte de gasto tributário. 

“Se o Congresso continuar nos ajudando, como está, se o Judiciário continuar nos ajudando, como está, sendo céleres (…), se nós continuarmos nesse caminho, a gente zera”. O Executivo, pontuou, “vai fazer a sua parte que é não criar novas despesas, combatendo o gasto tributário, defendendo o Tesouro Nacional nos tribunais superiores, tentando impedir que o Congresso aprove novas desonerações. Estamos fazendo nossa parte, agora é óbvio que eu dependo do Congresso e do Judiciário, os quais eu estou elogiando, não estou dizendo que está me faltando apoio, estou dizendo que devemos continuar harmonizando os três poderes e o Banco Central”. 

Com relação ao Banco Central e à postura do presidente Roberto Campos Neto quanto à manutenção da alta taxa de juros, Haddad disse: “Não gosto de fulanizar. Não tenho problema pessoal com ninguém nem posso ter porque tenho tarefas institucionais a cumprir”. E acrescentou: “Eu tento ponderar que, talvez pelos indicadores que eu tenho à disposição sobre atividade econômica, arrecadação de impostos, mercado de capitais, emissão de debêntures, IPO (entrada de empresas na Bolsa de Valores), tudo o que se conhece, eu vejo um sinal preocupante nesse sentido (da manutenção dos juros em 13,75%)”.

Haddad disse ainda que “quando levamos isso à consideração do Banco Central, isso não é um gesto político, como às vezes se diz que a política está interferindo na economia. Não. É a economia interferindo na economia, é um diálogo técnico, econômico, entre as autoridades fiscal e monetária que no mundo inteiro hoje busca-se harmonizar. São dois braços de um mesmo organismo, só existe uma política econômica”. 

No momento mais descontraído da conversa, ao falar de seus hobbies, Haddad disse que gosta de ler, ver filmes, ouvir música e de “arranhar um violãozinho”. Por fim, tirou alguns acordes de “Blackbird”, dos Beatles, apesar da timidez que disse ter ao tocar publicamente. 

Com agências

(PL)

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