Casos de estupro e de violência sexual crescem no Brasil

Crimes sexuais contra crianças e adolescentes saltaram 15% entre 2021 e 2022; casos de estupro cresceram 8,2% no mesmo período, segundo Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que o Brasil precisa avançar muito no combate à cultura do estupro e da violência sexual e ampliar os mecanismos de proteção. Segundo o levantamento, crimes sexuais contra crianças e adolescentes saltaram 15% entre 2021 e 2022. Já os casos de estupro cresceram 8,2% no mesmo período. 

Embora o número de mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes tenha caído no Brasil, crimes sexuais contra os menores apresentaram altas expressivas. O número desse tipo de morte de crianças e adolescentes no país foi de 2.556, em 2021, para 2.489 em 2022, uma redução de 2,6%. Já os estupros subiram 15,3% e a exploração sexual, 16,4%. O anuário foi divulgado nesta quinta-feira (20). 

Do total de 2.489 crianças e adolescentes vítimas de mortes violentas intencionais no ano passado, 2.011 foram vítimas de homicídio doloso (80,7%); 75 de feminicídio (3%); 20 de latrocínio (0,8%); 22 de lesão corporal seguida de morte (0,8%); e 361 de morte decorrente de intervenção policial (14,5%). 

Nesse universo, e considerando as vítimas de zero a 11 anos em 2022, 45,9% eram do sexo feminino e 54,1% do sexo masculino. Já dentre as vítimas de 12 a 17 anos, 89,7% eram do sexo masculino e apenas 10,3%, do sexo feminino.  E a maioria das vítimas é negra: 67,1% na faixa de zero a 11 anos e 85,1% na de 12 a 17 anos. 

Leia também: População negra encarcerada no Brasil é a maior da série histórica

Segundo o FBSP, isso evidencia que “a desigualdade racial é parte estruturante da problemática das mortes violentas no país e que se acentua na medida em que os anos passam na vida do sujeito”.  

No caso dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes, os estupros saltaram de 45.076 em 2021 para 51.971 em 2022, uma alta de 15,3%. Por faixa etária, foram quase 41 mil vítimas de zero a 13 anos, das quais quase sete mil tinham entre zero e quatro anos; mais de 11 mil vítimas entre 5 e 9 anos; mais de 22 mil entre 10 e 13 anos; e mais de 11 mil entre 14 e 17 anos. As vítimas negras (pretas e pardas) foram a maior parte em praticamente todas as idades, principalmente na faixa etária dos 11 aos 14 anos, em que representam aproximadamente 59% do total. 

Outro dado alarmante diz respeito à exploração sexual, que também aumentou, passando de 764 casos registrados em 2021 para 889 em 2022, uma elevação de 16,4%. E os casos de pornografia infanto-juvenil cresceram de 1.523 casos em 2021 para 1.630 em 2022, um crescimento de 7%.  

Estupros

Segundo os dados do anuário, os casos de estupro e estupro de vulnerável notificados no ano passado às autoridades policiais chegaram a 74.930, o que representa 36,9 em cada grupo de 100 mil habitantes. O número é 8,2% maior do que o registrado em 2021.

Os casos de estupro somaram 18.110 vítimas em 2022, crescimento de 7% em relação ao ano anterior, e os de estupro de vulnerável, com 56.820 vítimas, foi 8,6% mais alto do que no ano anterior.

Apenas 8,5% dos estupros no Brasil são reportados às polícias e 4,2% pelos sistemas de informação da saúde. Assim, conforme a estimativa, o patamar de casos de estupro no Brasil é de 822 mil casos anuais.

A pesquisa revela que as crianças e adolescentes continuam sendo as maiores vítimas da violência sexual: 10,4% das vítimas de estupro eram bebês e crianças com idade até 4 anos; 17,7% das vítimas tinham entre 5 e 9 anos e 33,2% entre 10 e 13 anos. Ou seja, 61,4% tinham no máximo 13 anos. Aproximadamente 8 em cada 10 vítimas de violência sexual eram menores de idade. Pela legislação brasileira, uma pessoa só passa a ser capaz de consentir a partir dos 14 anos.

De acordo com o anuário, no ano passado, 88,7% das vítimas eram do sexo feminino e 11,3%, do masculino; 56,8% eram pretas ou pardas (no ano anterior. eram 52,2%); 42,3%, brancas; 0,5%, indígenas; e 0,4%, amarelas.

Conforme os registros 82,7% dos abusadores são conhecidos das vítimas e 17,3%, desconhecidos. Entre as crianças e adolescentes com idade até 13 anos, os principais autores são familiares (64,4% dos casos) e 21,6%, conhecidos da vítima, mas sem relação de parentesco. Entre as vítimas de 14 anos ou mais, chama a atenção que 24,4% dos abusos foram praticados por parceiros ou ex-parceiros íntimos da vítima, 37,9% por familiares e 15% por outros conhecidos. Apenas 22,8% dos estupros de pessoas com mais de 14 anos foram praticados por desconhecidos.

Com informações da Agência Brasil

(PL)

Autor