Operações violentas da polícia aumentam risco de depressão e ansiedade
Pesquisa ouviu 1.500 moradores de seis comunidades do Rio de Janeiro. Elas relatam ansiedade, depressão, medo, tremores, insônia e até problemas físicos.
Publicado 09/08/2023 15:18 | Editado 10/08/2023 08:32
Moradores que vivem em comunidades expostas a tiroteios constantes cometidos pela polícia têm risco aumentado para o desenvolvimento de quadros como ansiedade, insônia, falta de ar, hipertensão arterial e depressão. É o que aponta um levantamento realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), divulgado nesta quarta-feira (9).
Sem falar que os confrontos armados nestas comunidades causam centenas de mortes violentas, o aumento nos casos de depressão e ansiedade em moradores de comunidades estão ligadas diretamente à exposição a tiroteios envolvendo agentes do Estado, apontou o resultado da pesquisa realizada com 1.500 moradores de seis comunidades do Rio de Janeiro.
Quase 75% dos entrevistados disseram ter insônia e quase a metade, 42%, tem problemas de hipertensão arterial. Um terço dos moradores dessas comunidades também relatou falta de sono, tremor e falta de ar durante os tiroteios.
A pesquisa aponta que o desenvolvimento desses tipos de doenças é mais que o dobro em comparação com moradores que vivem em comunidades mais tranquilas (ou com menor atuação da polícia).
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Outro problema constatado, é que a constante violência nas comunidades faz com que as unidades de saúde passem o maior tempo fechadas e em outra condição, as pessoas geralmente adiem a busca por atendimento à saúde devido aos confrontos.
Nas comunidades com maior número de confrontos armados, 59,5% dos moradores afirmaram que as unidades já tinham sido fechadas por causa da violência, enquanto nas demais comunidades, o índice é de 12,9%. A porcentagem de moradores que já adiaram a busca por atenção médica devido à violência é de 26,5%, enquanto nas áreas mais tranquilas esse índice é de apenas 5,9%.
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A socióloga Rachel Machado, coordenadora dessa pesquisa, disse à Agência Brasil que “a política de segurança não promove segurança de verdade e promove, por outro lado, medo, adoecimento e, muitas vezes, morte”, afirma.
“Existe uma escolha política [do Estado] por sistematicamente fazer operações violentas, que causam esse impacto na saúde dos moradores, que transformam a rotina deles e não dão paz nem dentro de casa. Também os impedem de acessar um direito tão fundamental, que é o direito à saúde, garantido pela Constituição. Existe uma unidade de saúde próxima à sua residência, para você ser atendido e você não pode [por causa dos tiroteios]”, explica a pesquisadora.
A Polícia Militar (PM) informou em nota que a “opção inconsequente pelo confronto armado é sempre dos criminosos” e que suas ações “são pautadas por informações de inteligência e planejamento prévio, tendo como preocupação central a preservação de vidas e o cumprimento irrestrito da legislação em vigor”.
A pesquisa ouviu moradores de seis comunidades no Rio. Em três delas com maior número de tiroteios (Nova Holanda, na Maré; CHP-2, em Manguinhos; e Vidigal, na zona sul) e três que não registraram confrontos armados naquele ano (Parque Proletário dos Bancários, na Ilha; Parque Conquista, no Caju; e Jardim Moricaba, na zona oeste) em 2019.
Com informações da Agência Brasil