Morre Dom Mauro Morelli, deixando legado de luta contra a fome

O Brasil perdeu hoje um de seus líderes religiosos e defensores dos direitos humanos mais proeminentes com o falecimento de Dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias, aos 88 anos. Ele foi um religioso comprometido com a promoção da justiça social e com a luta contra a fome, deixando um legado inspirador.

Dom Mauro Morelli faleceu na madrugada desta segunda-feira, 9 de outubro, em Belo Horizonte, onde estava internado devido às complicações associadas à sua idade avançada. Nascido em Avanhandava, no interior de São Paulo, em 17 de setembro de 1935, ele dedicou sua vida à Igreja Católica e à defesa dos menos favorecidos.

Dom Mauro não se furtou de se manifestar de forma contundente quando criticou o comportamento de Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores durante o dia da homenagem à Padroeira do Brasil, em 2022. Ele criticou o caráter eleitoreiro da visita dizendo que “comportou-se como agente de Satanás” em Aparecida. Ele também condenou as agressões cometidas pelos apoiadores do presidente, que ocorreram no lado de fora do Santuário de Aparecida.

“Bolsonaro em Aparecida comportou-se como Agente de Satanás. Desrespeitou a Mãe de Jesus e seus outros filhos e filhas, peregrinos famintos de vida com dignidade e esperança. Com seus endiabrados seguidores deveriam ser presos em flagrante como arruaceiros. São Miguel, cuidado!”, alertou o bispo, via redes sociais.

O religioso, que é conhecido como pastor das periferias e dos excluídos, o bispo emérito era um grande expoente na luta contra a fome e a desnutrição materno-infantil no Brasil, tendo sido um dos responsáveis por projetos como o Fome Zero e da Ação da Cidadania contra a Fome. Dom Mauro também foi membro do Comitê Permanente de Nutrição da ONU.

Dom Mauro também foi um dos fundadores do Movimento pela Ética na Política e desempenhou um papel fundamental na promoção do conceito de segurança alimentar como parte do combate à fome. Durante o governo de Itamar Franco, ele presidiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) de 1993 a 1994.

Sua dedicação à luta contra a fome se concretizou em projetos como o Fome Zero e a Ação da Cidadania contra a Fome, em parceria com o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Dom Mauro também foi membro do Comitê Permanente de Nutrição da ONU, contribuindo significativamente para os esforços globais em prol da segurança alimentar.

Sua trajetória começou em 1965, quando foi ordenado sacerdote, e em 1974, recebeu a nomeação como bispo auxiliar de São Paulo pelo Papa Paulo VI. Durante seu episcopado, ele se destacou como vigário geral da arquidiocese de São Paulo e membro da Comissão Representativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Em 1981, Dom Mauro assumiu a diocese de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, onde serviu como bispo até 2005. Durante seu tempo na diocese, ele promoveu iniciativas que deixaram um impacto duradouro na comunidade, incluindo a realização do primeiro sínodo diocesano, que moldou as Diretrizes Pastorais em várias áreas da vida eclesial, e a implementação do plano de Comunhão de Bens.

Mas foi na sua atuação em prol dos direitos humanos e na luta contra a fome que Dom Mauro Morelli se destacou ainda mais. Entre 1986 e 1990, ele foi parte do SERPAJ-AL (Servicio Paz y Justicia en América Latina), uma organização internacional de defesa dos direitos humanos e órgão consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU), presidido por Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980.

A notícia da morte de Dom Mauro Morelli foi lamentada em todo o Brasil. O presidente Luis Inácio Lula da Silva expressou seus sentimentos nas redes sociais, destacando o compromisso de Dom Mauro com um Brasil mais justo e solidário. “Soube, com grande tristeza, do falecimento desse grande amigo que lutava por um Brasil mais justo e solidário. Meus sentimentos aos irmãos de fé de Dom Mauro Morelli nesse momento de tristeza e despedida”, escreveu o presidente.

O bispo diocesano, Dom Tarcisio dos Santos, da Diocese de Duque de Caxias, também prestou homenagem a Dom Mauro, lembrando-o como “um verdadeiro missionário da vida” e uma figura notável na Igreja e na sociedade brasileira.