Tensões no Oriente Médio elevam preços do petróleo e podem afetar economia global

Presidente da Petrobras avalia impactos do conflito e aborda desafios no mercado de combustíveis brasileiro

Reprodução/Freepik

O conflito entre Israel e palestinos na região de Gaza estão impactando os preços do petróleo global. O cenário se agravou após a explosão de um hospital em Gaza, causando centenas de mortes, e levantando preocupações sobre a expansão das hostilidades para outros países produtores de petróleo na região do Oriente Médio.

Desde o início do conflito, o petróleo Brent subiu 9%, respondendo ao receio de uma possível interrupção na oferta do combustível. Além disso, o Irã, suposto aliado do Hamas, pediu embargo e sanções à oferta de petróleo a Israel por parte dos países islâmicos, intensificando as tensões.

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Esses eventos fizeram com que os preços do petróleo aumentassem significativamente. O barril do petróleo WTI, referência americana, com entrega prevista para dezembro, fechou em alta de 2,14%, atingindo US$ 87,27. Enquanto o barril do Brent para o mesmo mês avançou 1,78%, alcançando US$ 91,50 (cerca de R$ 462) .

Especialistas observam que o aumento nos preços não se deve à interrupção da oferta de petróleo, mas sim ao potencial de tal interrupção ocorrer.

Em publicação do Valor, Norbert Rücker, economista-chefe do banco suíço Julius Baer, apresenta três cenários para a crise. No primeiro, com 5% de probabilidade, o conflito se espalha, outros países se envolvem, e os preços do petróleo podem saltar para US$ 150 o barril. Nesse caso, a inflação retornaria e a economia poderia entrar em colapso; no segundo, com 65% de probabilidade, o conflito permanece focado em Israel, com efeitos mínimos; no terceiro, com 30% de chances, o conflito se direciona para o Líbano e a Síria, com impactos mais duradouros. O cenário-base prevê uma queda nos preços em 2024.

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As tensões geopolíticas e os aumentos nos preços do petróleo também têm gerado preocupações nos bancos centrais e economias globais. Autoridades do Federal Reserve dos EUA têm alertado sobre o risco de uma volta da inflação, especialmente devido a altas inesperadas nos preços de energia. O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, destacou que o conflito em Israel é um choque econômico global que pode dificultar os esforços dos bancos centrais para manter a estabilidade econômica.

Impacto no Brasil e na Petrobras

Especialistas ouvidos pelo Valor também acreditam que, se o conflito se alastrar, envolvendo países produtores de petróleo como o Irã, os preços podem ultrapassar os US$ 100 por barril, afetando o suprimento global da commodity. Isso colocaria pressão sobre a Petrobras para reajustar os preços dos combustíveis no mercado brasileiro.

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, disse que “em princípio,” o conflito entre Israel e o Hamas não deve causar um aumento constante nos preços do petróleo e, por consequência, nos preços dos combustíveis. 

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Segundo ele, “até agora você não está em um território onde você tem instalações de produção ou escoamento, como na Ucrânia, ou como foi no Kuwait. Do ponto de vista da indústria do petróleo, por enquanto, não houve alastramento, então a eventual ascensão do preço, que está acontecendo é uma ascensão já estrutural de demanda e oferta”, disse ao participar de evento em comemoração aos 70 anos da Petrobras na Câmara dos Deputados. 

Pressões de oferta e demanda

Prates enfatizou que as elevações de preço estão sendo impulsionadas principalmente por pressões de oferta e demanda, em vez dos conflitos no Oriente Médio. Além do conflito entre Israel e o Hamas, outros cenários como a guerra entre Rússia e Ucrânia e Arábia Saudita e Iêmen, não tiveram um impacto duradouro no mercado de petróleo. 

No entanto, o presidente da Petrobras também alertou sobre a possibilidade de uma “tempestade perfeita” no mercado se o conflito se espalhar pelo Oriente Médio e envolver países produtores de petróleo. “O preço do petróleo já está afetado, piorar mais a guerra é a tempestade perfeita”, comentou.

Possíveis consequências 

Prates expressou preocupação com a possibilidade de envolvimento de países como o Egito e o Irã na guerra, pois isso poderia ser especialmente prejudicial para o Brasil, que já enfrenta preços “altos” para os combustíveis. “A gente já está com preço alto, a gente está administrando a crise anterior a essa. E o preço subiu porque várias circunstâncias que se coordenaram para isso. Esse espasmo final com a questão de Israel deu-se durante dois, três dias. Depois voltou à estrutura de antes, mas ainda é estrutura de preço alto.”

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Apesar das preocupações, Prates não viu “indícios” de que um alastramento da guerra esteja iminente. Ele acrescentou: “Pode se alastrar. Já tivemos um impacto inicial [no preço do petróleo], como acontece em toda guerra, e depois voltou mais ou menos para o preço que estava antes: US$ 91.”

Os preços das ações preferenciais da Petrobras subiram 14,9%,para R$ 38,52, desde o início do conflito. Isso mostra como as questões geopolíticas podem influenciar os mercados financeiros e a indústria de energia.

Desafios internos

Além das tensões no Oriente Médio, a indústria de combustíveis no Brasil enfrenta desafios internos, como a defasagem nos preços do diesel em relação à paridade de importação. 

Conforme a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem do preço do diesel da Petrobras em relação à paridade de importação estava em média 15%, ou R$ 0,65 por litro. Na gasolina, a defasagem estimada é de 2%, R$ 0,05 por litro.

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A decisão de extinguir o conceito de preço de paridade de importação (PPI) também foi discutida, e Prates comentou que “há preços acessíveis, apesar de estarmos numa fase de preços mais aguda em função do mercado internacional”.

O cenário atual é volátil e complexo, com os preços do petróleo reagindo às notícias e acontecimentos na região de Israel e Gaza. O impacto nas políticas econômicas e nos preços dos combustíveis no Brasil permanece incerto, dependendo da evolução do conflito e do envolvimento de outros países produtores de petróleo.

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com informações de agências

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