Governo lança campanha para combater ódio às mulheres

Com uma série de ações, a campanha Brasil sem Misoginia espera envolver a sociedade para enfrentar a cultura de violência que mata e fere milhares de brasileiras

Ministras e autoridades durante lançamento da campanha. Foto: Claudio Kbene/PR

Somente em 2022, 1.437 mulheres foram vítimas de feminicídio e mais de 245 mil sofreram lesão corporal dolosa, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Estes são apenas alguns dos muitos dados que mostram a rotina de violência à qual milhares de brasileiras estão expostas e que piorou nos últimos anos. Neste contexto, a luta contra a misoginia, pano de fundo desse cenário brutal, é vital. 

Para enfrentar essa situação, o Ministério das Mulheres lançou, nesta quarta-feira (25), a campanha Brasil sem Misoginia, que tem o objetivo de mobilizar a sociedade para o combate ao ódio, à discriminação e à violência contra a mulher.   

“Os feminicídios não se resumem ao ato de matar, de tirar a vida de uma mulher. Eles começam antes com as piadas, com as brincadeiras, com os maus-tratos, com a violência psicológica e moral”, diz a ministra Cida Gonçalves. 

A iniciativa deve envolver diversos setores – governos, empresas, sociedade civil, organizações não governamentais (ONGs), times de futebol, torcidas organizadas, universidades e grupos religiosos, entre outros. Segundo a ministra, mais de 100 empresas devem assinar um termo de adesão ao Brasil sem Misoginia. “Vamos aonde pudermos chegar, para que possamos ter uma sociedade que se mobilize, que não aceite e que não tolere o ódio contra as mulheres”, explicou Cida.

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Um dos focos da campanha é a internet. Serão desenvolvidas ações junto com Google, Facebook, Meta e Youtube para combater o discurso de ódio e a exposição, por meio da divulgação de fotos íntimas e falsas, de mulheres nas redes sociais. 

Dados da Safernet apontam aumento de 251% das denúncias de discurso de ódio contra as mulheres na internet em 2022, contra alta de 61% em denúncias de discurso de ódio de outras naturezas. “Vamos cobrar para que os ataques nas redes sociais sejam criminalizados e essas contas, excluídas”, afirmou a primeira-dama Janja Lula da Silva, no lançamento da campanha.  

Outras estratégias têm como foco o combate à violência de gênero e à desigualdade salarial entre homens e mulheres; a prevenção da violência doméstica e a ampliação da presença feminina nos espaços de poder. 

Quadro brutal

O aumento no número de ocorrências contra as mulheres foi registrado em todos os tipos de crimes. Ainda de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os feminicídios aumentaram 6% em 2022 em relação ao ano anterior, assim como as tentavas de feminicídios (17%), de agressões por violência doméstica (2,9%) e as chamadas ao 190 (8,7%). As medidas protetivas também saltaram 13,7%, chegando a mais de 445 mil. 

No Anuário Brasileiro de Segurança Pública deste ano, o FBSP aponta como algumas hipóteses para esse crescimento o desmonte das políticas de proteção às mulheres sob o governo de Jair Bolsonaro, que teve a menor alocação orçamentária em dez anos para enfrentar a violência contra as brasileiras; o impacto da pandemia de covid-19 nos serviços de acolhimento e proteção às mulheres e o ” cenário de crescimento dos crimes de ódio a partir da “ascensão de movimentos ultraconservadores na política brasileira, que elegeram o debate sobre igualdade de gênero como inimigo número um”.

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Outro aspecto, talvez mais subjetivo, também forma esse caldo de ódio às mulheres. “Há uma teoria bastante difundida nos estudos feministas, a do “backlash”, e que pode nos ajudar a entender por que a violência contra as mulheres continua crescendo: na medida em que avançamos em ações e intenções que promovam a igualdade de gênero em diferentes espaços, as violências contra as mulheres aumentam. Seria uma reação ao fato de tentarmos romper com os papéis sociais que nos foram histórica e culturalmente atribuídos”, resume artigo do anuário assinada por Samira Bueno, Juliana Martins, Amanda Lagreca, Isabela Sobral, Betina Barros e Juliana Brandão. 

Com informações da Agência Brasil