EUA e México fecham acordo para abertura de travessias e contenção migratória

O fechamento de travessias na fronteira, como pontes ferroviárias, estava impedindo o comércio bilateral. Obrador não explicitou as medidas de contenção migratória.

Imagens de migrantes em caravana em direção aos Estados Unidos, da cidade de Tapachula, no dia 24 de dezembro, impressionou o mundo.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, anunciou na quarta-feira (27) que um acordo foi alcançado com autoridades dos Estados Unidos para fortalecer as medidas de contenção de imigrantes que atravessam o México em direção aos Estados Unidos. O anúncio ocorreu após uma visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e do secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, à capital mexicana.

O fechamento temporário de várias travessias na fronteira pelos Estados Unidos, incluindo duas pontes ferroviárias essenciais, visava redistribuir recursos de fiscalização para lidar com o aumento recorde no número de migrantes. Essa ação tornou-se um ponto crucial nas eleições dos EUA do próximo ano, no entanto, prejudica muito o comércio bilateral entre os países.

López Obrador, em coletiva de imprensa, declarou: “Este acordo foi alcançado, as travessias ferroviárias e as pontes de fronteira já estão sendo reabertas para normalizar a situação. Todo dia há mais movimento nas pontes de fronteira”. Ele elogiou a relação direta estabelecida durante as reuniões com a delegação dos EUA, destacando a boa relação com o presidente Biden, que compreende a complexidade do fenômeno migratório relacionado à pobreza.

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Na semana passada, López Obrador prometeu ajudar a aliviar as pressões migratórias sobre os Estados Unidos e, na quarta-feira, pediu aos legisladores norte-americanos que investissem mais para ajudar os pobres na América Latina e no Caribe “em vez de colocar barreiras, cercas de arame farpado no rio, ou pensando em construir muros.”

Quanto ao aumento recente de imigrantes, López Obrador afirmou que o México está comprometido em trabalhar em conjunto para manter o fluxo de maneira ordenada. Detalhes sobre as medidas específicas ainda não foram divulgados.

Biden x Trump

A crise migratória tem sido fonte de críticas à administração Biden, especialmente em relação às travessias diárias, que atingiram cerca de 10.000 por dia. O presidente mexicano reconheceu o aumento no número de imigrantes, incluindo venezuelanos, haitianos, cubanos e equatorianos, que enfrentam condições perigosas em sua jornada pelos territórios mexicanos.

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O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o principal candidato para enfrentar Biden em 2024, prometeu reprimir a imigração ilegal e restringir a imigração legal se for eleito. Durante o seu mandato anterior, Trump concentrou-se na construção de um muro na fronteira com o México. A sua administração construiu 450 milhas (725 km) de barreiras ao longo da fronteira de cerca de 2.000 milhas (3.200 km), mas grande parte delas substituiu as estruturas existentes.

As reuniões ocorrem depois de mais de meio milhão de migrantes terem atravessado este ano a perigosa selva de Darien Gap, que liga a América do Sul à América Central – o dobro do recorde do ano passado – com muitos deles a fugirem do crime, da pobreza e dos conflitos em busca de melhores perspectivas nos Estados Unidos.

No entanto, a questão do fentanil, um opioide poderoso e mortal, foi pouco discutida durante as reuniões, apesar da pressão dos EUA para que o México intensifique seus esforços no combate ao tráfico desse entorpecente. Por sua vez, o México busca um controle mais rigoroso dos EUA para evitar que armas alcancem os poderosos cartéis de drogas mexicanos.

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As negociações destacaram a necessidade de abordar as causas estruturais da migração, incluindo pobreza, violência, conflitos e mudanças climáticas. O tema permanece um desafio complexo, e as partes comprometeram-se a continuar os esforços conjuntos para buscar soluções a longo prazo.