Antonio Capistrano: As esquerdas e a política de alianças
Após a renúncia de Getúlio Vargas, nas eleições de 1945, o PCB, na legalidade, pela primeira vez, começa uma nova postura com relação às alianças eleitorais. Aqui no Estado, o PCB juntou-se à UDN, apoiou Floriano Cavalcanti em 47, Dix-sept Rosado Maia em
Publicado 13/03/2008 22:59 | Editado 04/03/2020 17:08
Com o golpe militar e o bipartidarismo (1966), os comunistas e outras forças de esquerda ficaram no MDB e alguns camaradas do PCB, dependendo do contexto político de cada município, tiveram permissão para filiar-se à Arena.
Aqui no Estado as lideranças oligárquicas ficaram no mesmo partido, a Arena, que era o partido da ditadura, para isso criaram o artifício da sublegenda. Arena Verde era dos aluizistas e a Arena Vermelha dos dinartisdas. Aluízio Alves, Dinarte Mariz, Tarcísio Maia, Geraldo Melo, Vingt Rosado, Dix-huit Rosado, Jessé Freire, Duarte Filho, Mota Neto, Theodorico Bezerra, todos na Arena. O MDB, que era a oposição permitida, recebeu os militantes de esquerda e os liberais. Mas, são os comunistas que dão o rumo do novo partido. Nessa época em tom de chacota diziam que o MDB potiguar cabia dentro de um Fusquinha, e era verdade.
Em janeiro de 1969, Aluízio, deputado federal eleito pela Arena, tem os seus direitos políticos cassados, como também de seus mais influentes correligionários, inclusive dois irmãos – Agnelo Alves, que era prefeito da nossa capital e Garibaldi Alves que era Conselheiro do Tribunal de Contas, além de três amigos: Francisco Seráfico Dantas, Erivan França e Assumpção de Macedo. Mesmo assim, Aluízio continuou sendo uma das mais influentes vozes do Estado junto aos governos militares.
Em 1970, os Alves, após a cassação dos líderes da família, deixam a Arena e filiam-se ao MDB. Na primeira eleição (1970) Henrique Alves é eleito para a Câmara Federal e Garibaldi Filho para a Assembléia Estadual. O MDB começa a inchar, não é mais a agremiação política de esquerda, de enfrentamento a ditadura. Claro que os Alves têm interesse na abertura política, com ela o seu espaço político não fica dependendo da vontade de um general ou de um oficial superior das forças armadas.
Em 1974, tem início uma nova tática de luta das esquerdas, a luta eleitoral. O MDB lança a anticandidatura de Doutor Ulisses Guimarães à presidente da República. Anticandidatura porque era impossível, naquele contexto, ganhar no colégio eleitoral. O sistema ditatorial tinha uma grande base política em todo país, os oportunistas de sempre, aqueles que sempre estão no governo. A campanha eleitoral de Doutor Ulisses, em 1974, foi uma bela campanha, o início do fim da ditadura militar. Vale salientar que os principais caciques da política local eram sustentáculos, no parlamento, do regime ditatorial, implantado no Brasil com o golpe de 1964.
Os comunistas assumem a luta eleitoral na busca das liberdades democráticas. Derrotar o regime de exceção, com o povo nas ruas, era a palavra de ordem. 1974 foi um ano simbólico, os militares sofrem uma grande derrota, são eleitos 17 senadores do MDB. O eleitorado potiguar derrota Djalma Marinho candidato da Arena, elegendo Agenor Nunes de Maria senador. Tem início o processo de abertura política, lenta e gradual, comandada pelo general-presidente Ernesto Geisel e tendo a assessoria estratégica do seu chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva.
A luta pela anistia, por eleições diretas, pela constituinte, as greves no ABC Paulista mobilizava a sociedade brasileira, unia as forças de esquerda, prenúncio do fim do regime militar. Em 1978, é nomeado o último militar para a Presidência da República, o general João Baptista Figueiredo e o último governador, o médico Lavoisier Maia, primo de Tarcísio e dos Rosado. Dentro do projeto de Tarcísio de criar uma nova oligarquia substituindo a liderança do velho Dinarte, Zé Agripino é nomeado prefeito da Capital. Nessas eleições, a esquerda discorda da farsa da ''Paz Pública'', costurada por Aluízio e Tarcísio, e faz campanha contra. Apoiando para o senado o empresário Radir Pereira.
Em 1982, com a reforma política, são criadas novas siglas partidárias, o MDB transforma-se em PMDB e a Arena em PDS. Nesse processo, as esquerdas se dividem surgem dessa divisão PT, PDT, PTB. Os PCs continuam na ilegalidade. Ainda sob um governo militar, é criada a figura do senador biônico e do voto vinculado, subterfúgios utilizado pela ditadura para evitar uma fragorosa derrota nas eleições de 1982.
Na eleição de 1982 ocorre um fato interessante, mesmo sem estrutura e com o grupo aluizista fazendo o jogo do voto cinturão e os Rosado o 'voto camarão', o professor João Batista Xavier, candidato a prefeito, pelo PMDB, contra o poderoso Dix-huit Rosado, dá um susto na oligarquia que comanda Mossoró há 60 anos. Era o início da aproximação dos Alves e Rosado, de Aluízio e Vingt, com a dissidência, calculada, de Carlos Augusto Rosado que vai ocupar o outro lado do jogo político em Mossoró.
Com o susto de 1982, o grupo Rosado refaz a sua estratégia e na eleição municipal, seguinte, (1988) se ''dividem'' para ocupar todos os espaços, com isto evitando uma supressa. Na disputa de 1988 a família Rosado lança dois candidatos a Prefeitura de Mossoró, Laíre Rosado pelo PMDB e Rosalba Ciarlini Rosado pelo PDT em aliança com o PDS, era a concretização dessa nova estratégia. A partir daí eles, em todas as eleições, se reúnem para avaliar o quadro e montar a estratégia do grupo familiar, até hoje, vem dando certo.
A partir daí, em todas as eleições subseqüentes, grande parte da esquerda ficou sendo penduricalho das duas facções da família. Um grupo acompanhou Carlos Augusto Rosado e o outro acompanhou Sandra Rosado.
O PT ficou em uma posição de construção de alternativa sem fazer aliança com os caciques da política local, embora, já naquela época, alguns militantes ou simpatizantes do PT, declaradamente ou por debaixo do pano, apoiaram um dos grupos liderados pelos Rosado. Em 1988 Rosalba recebeu apoio de simpatizantes e de militantes do PT e do PCB. Laíre ficou com parte do PCB e dos tradicionais aluizistas. Naquele momento, o PC do B começava a ser construído em Mossoró. O PT local cresceu lançando candidatos próprios a todos os cargos eletivos a partir de 1982.
Na última eleição (2006) com a busca da reeleição de Lula, com a política de alianças com os grupos tradicionais, o PT e as outras forças de esquerdas não tiveram condições de lançar um único candidato a qualquer cargo eletivo com base eleitoral em Mossoró. Como militante comunista, venho, desde 1960, participando de todo tipo de aliança, hoje, chego à conclusão que não avançamos, sempre fomos tratados como penduricalho por esses grupos. Isto é preocupante, merece uma reflexão. Será que as esquerdas vão continuar sendo penduricalho das oligarquias? O PT que era o último bastão da resistência à composição com as oligarquias tupiniquim, vai continuar resistindo ou vai, também, virá um penduricalho da oligarquia local? Só o tempo dirá.
Antonio Capistrano é Dirigente Estadual do PCdoB; ex-Deputado Estadual. Publicado na Gazeta do Oeste.