Bolsonaro atira a esmo e perde força

A ridícula apresentação de falsas afirmações acerca do sistema de urnas eletrônicas para embaixadores estrangeiros resultou em mais desgaste para o governante

Ilustração: Aroeira

A analogia é inapropriada tendo em conta nossa repulsa à cultura armamentista, mas cai muito bem na figura do presidente da República.

Acossado por uma oposição crescente lastreada na insatisfação popular, Bolsonaro saca metralhadora giratória e ataca a esmo.

E se enfraquece.

Isto porque, ainda que carecendo de maior coesão, a resistência democrática se expressa nos mais diferentes segmentos da sociedade.

Agora mesmo, a ridícula apresentação de falsas afirmações acerca do sistema de urnas eletrônicas para embaixadores estrangeiros, num powerpoint mal feito, por um presidente patético, resultou em mais desgaste para o governante, incluindo até desavenças em seu próprio núcleo de coordenação da pré-campanha.

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Da embaixada e do porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, em nota enaltecendo a lisura do sistema eleitoral eletrônico brasileiro, aos sucessivos pronunciamentos de segmentos do mundo jurídico e do presidente do Congresso Nacional, crescente é a condenação da ópera-bufa diplomática encenada por Bolsonaro.

Mesmo as concessões contidas na chamada PEC kamikaze provavelmente não produzirão os dividendos eleitorais desejados.

São 43 bilhões de reais consumidos em benesses de última hora que contradizem o discurso fiscalista do ministro Paulo Guedes e equipe e geram mais instabilidade e geram mais desconfiança entre investidores.

A atabalhoada redução de impostos, a facilitação de saques do FTGS, assim como a redução do ICMS no preço dos combustíveis na verdade são paliativos de curto alcance face a tremenda crise econômica e social em que o país se vê mergulhado.

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Concomitantemente, as ensandecidas ameaças do presidente ao processo democrático tornam perceptível a necessidade de se tentar uma vitória eleitoral das oposições já no primeiro turno.

A movimentação no MDB, no sentido até da desistência da sua candidata e de um apoio formal a Lula, reflete esse propósito.

E se antes se podia dizer que todas as pedras do tabuleiro das eleições presidenciais se moviam ao modo de placas tectônicas, agora tudo se acelera. E a temperatura do conflito entre a coalizão ultra reacionária de Bolsonaro e o conjunto das forças democráticas tende a se elevar rapidamente.

A derrota do governante de extrema-direita, que se vê esfarrapado e atira para todos os lados, há que se consumar agora através da combinação de mais largueza na frente política e eleitoral reunida em torno de Lula e mais intensa mobilização popular.

Vencer é possível — e importa que seja já no primeiro turno.

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