A luta atual pede um indispensável reencontro

João Amazonas costumava dizer que é necessário fazer a boa política “por cima”, construindo a todo instante a unidade possível no campo democrático e progressista

Na complexidade da sociedade brasileira e no presente contexto pós-eleitoral, múltiplas são as questões na pauta da chamada análise da realidade concreta tendo em vista a continuidade da luta transformadora.

Vale, sobretudo, para correntes políticas conscientemente empenhadas em mudanças na sociedade para além do que está estabelecido. Pois não basta conter o mal neofascista derrotando-o no pleito presidencial — por mais que reconheçamos aí uma vitória de sentido estratégico.

É preciso ir abaixo e a fundo — como dizia Lenin — no intuito de compreender o que verdadeiramente se passa na base da pirâmide social.

Isto não pressuposto de que a concretização do novo governo Lula como instrumento de recuperação da economia, da reconquista de direitos e da preservação da soberania nacional depende de ampla mobilização social, ao lado das condições de governabilidade alcançadas, a muito custo, no parlamento.

João Amazonas costumava dizer que é necessário fazer a boa política “por cima”, construindo a todo instante a unidade possível no campo democrático e progressista; e fazer a boa política “pela base”, despertando para a luta, organizando e mobilizando milhões de brasileiros e brasileiras a partir dos que têm na própria força de trabalho a sua riqueza e as suas potencialidades.

O PCdoB é reconhecido e respeitado pela largueza de propósitos e pela habilidade em contribuir para unir forças numa mesma direção. É a política “por cima” bem sucedida, como na construção da frente ampla que elegeu Lula presidente.

Mas o próprio PCdoB reconhece limitações no seu enraizamento nas massas do povo, em boa parte pelo desacordo entre concepções, métodos e instrumentos de trabalho que já não são plenamente suficientes para darem conta das transformações no mundo do trabalho e no modo como a maioria da população sobrevive, se informa, forma seu juízo de valor sobre os fatos, defende o que deseja e se junta para a ação comum.

Essas limitações são comuns às forças de esquerda no seu conjunto e se manifestam conforme o estilo e as concepções de cada uma.

Embora pareça paradoxal, o PCdoB — que pelo critério eleitoral não está entre as grandes agremiações do país — é que reúne melhores condições de promover um verdadeiro reencontro com sua base proletária e popular.

Seja pela experiência acumulada em um século de existência e atuação ininterrupta, seja pela sua base teórica científica e pela sua proposta programática — que que o faz enxergar o objetivo estratégico para além dos limites institucionais vigentes e aponta o caminho de reformas estruturais profundas que, a um só tempo, propiciarão a elevação do padrão de vida material e espiritual e um salto qualitativo na consciência política do nosso povo – que assim vislumbrará o socialismo como alternativa.

O tempo novo que se abre no país a partir de primeiro de janeiro vindouro instiga milhões de trabalhadores assalariados, jovens estudantes ou em idade de estudar, mulheres e vasta camada da intelectualidade.

A luta imediata concreta, de natureza econômica e política, e o embate no terreno das ideias conformam o ambiente em que se dará o reencontro desejado entre a corrente revolucionária e consequente e sua base social.

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