A praça

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Sob a luz da lua cheia
É que se vê a extensão
De uma praça vazia.
Quanto dói a praça sem luta, sem festa.
Não há sequer um bar; um violão
Apenas um aposentado passeia com um cão.

No centro da praça, há um monumento.
Três trabalhadores erguem um bloco de cimento.
Estão lá, noite e dia, sempre a construir o mundo.

Na praça cabem trezentas luas das graúdas,
Mas já a vi pequena.
Eram muitos sapatos e sandálias
Por metro quadrado.

O chão negro e o colorido dos calçados.
Homens e mulheres
Carregavam nas mãos suas bandeiras,
E seus meninos.
E os jovens que haviam enfrentado
A tropa de choque
Bebiam longos goles de cerveja.
Eram longos também os beijos.
Gritavam e se abraçavam
E assim erguiam um outro monumento.

Mas embora gigante
Já a vi feia, fraca, frágil, miúda.
Já a vi quase deserta
Embora grande fosse a causa.
Já vi bandeira honrada sendo incinerada.

Já a vi proibida ou cercada.
Quanto decreto destes o povo rasgou.
A história conta o ridículo tirano
Que proibiu o nascer do sol.

As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi – edição 2005

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