Nem tudo que polariza se dissolve no ar

Na própria frente ampla em torno de Lula, a plataforma de reconstrução nacional implica desafios políticos e técnicos

Na recente reunião dos pré-candidatos Lula e Alckmin com dirigentes dos partidos coligados, firmou-se a impressão de que a polarização revelada no conjunto das pesquisas até o momento tende a se confirmar em outubro.

Como expectativa atual, sim. Sem que se despreze a possibilidade de fatos novos que venham a alterar tendências no comportamento do eleitorado. Uma variável sempre na espreita, particularmente num país como nosso mercado pela instabilidade em toda linha.

Certamente o confronto Lula versus Bolsonaro reflete o verdadeiro fosso que se amplia incessantemente na base da sociedade, entre uma minoria que concentra a produção, a especulação, a renda e a riqueza e uma imensa maioria que se vê excluída e desprovida de direitos elementares.

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Conscientemente ou não, esses dois extremos desiguais confrontam entre si suas expectativas e isso se traduz em escolhas eleitorais.

Correndo por fora, Ciro Gomes segue sua via crucis ostentando boas ideias sobre a economia e incompreensível ataque cerrado ao ex-presidente Lula, mais até do que à extrema direita alojada no poder, adversária comum de todos os democratas.

Também quase à margem da peleja seguem a cúpulas emedebistas e tucanas em busca de uma candidatura que pelo menos marque presença no pleito.

A coalizão liderada por Lula, que já reúne os federados PT, PCdoB e PV mais PSB, Psol, Rede e Solidariedade, agora se vê diante de uma dupla tarefa: avançar na definição comum de uma plataforma a dar conteúdo à campanha; e seguir atraindo mais apoios junto a legendas partidárias e segmentos da sociedade.

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Nada simples.

No polo oposto, Bolsonaro e o Centrão manejam celeremente e sem qualquer escrúpulo a máquina estatal, na tentativa de segurar seus apoios e recuperar parcelas do eleitorado que se deslocaram para a oposição.

E na própria frente ampla em torno de Lula, a plataforma de reconstrução nacional implica desafios políticos e técnicos sob um mesmo guarda-chuva marcado pela pluralidade de concepções sobre a economia e os rumos do país.

Quero um exemplo? Confira no YouTube o seminário ‘Desmonte do setor de energia — Petrobras e Eletrobrás — e os caminhos para sua reconstrução’, promovido pela Fundação Grabois. 

Sim, a polarização que se confirma a cada pesquisa é tão consistente que não se dissolverá no ar – mas, como se diz cá na mauriceia, rapadura é doce mas não é mole…

Vamos ao trabalho!

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