Quem causa a guerra e quem quer a paz

Para os pacifistas das redes quem não se autodeclara “contra a guerra” é inimigo, acabou aí o diálogo

Foto: Konstantin Mikhalchevsky/Sputnik

Acompanhando os debates sobre a questão Rússia/Ucrânia tenho notado, em redes sociais, o surgimento de pacifistas que exigem o imediato fim da guerra. Muitas vezes os argumentos são emocionais: a morte de bebês, mulheres e velhinhos, dor dos ucranianos. Bandeira? Paz. Só isto, paz. Em tempo, não falo de quem defende efetivamente a paz e identifica causas e agentes da guerra por conhecer história e geopolítica da região.  

Para os pacifistas das redes quem não se autodeclara “contra a guerra” é inimigo, acabou aí o diálogo.  Falar em soberania russa virou estalinismo dos fãs de Putin, o czar expansionista. É uma verdadeira patrulha anti-Rússia, para quem inexistem ameaças nos mísseis estadunidenses plantados nas fronteiras russas.

Devem desconhecer que após o fim da União Soviética houve um acordo entre Rússia e EUA, pondo fim ao Pacto de Varsóvia e a Otan. O pacto foi dissolvido, mas a Otan não foi extinta e sim ampliada, chegando cada vez mais perto da Rússia, com seus mísseis e tropas.  Esta guerra de hoje é entre Rússia e Ucrânia ou seria amanhã entre Rússia e toda a Otan. Se fosse assim, comoveria os pacifistas? Creio que não. Por qual motivo? Muitos, mas um deles pode ser o mais óbvio.

O anticomunismo!

Centenário e entranhado na nossa sociedade, como qualquer outro preconceito, que permeia da direita mais extremada à esquerda mais revolucionária. Não é à toa que esta palavra assusta tanto e é tão usado pela direita. Este preconceito talvez nem perceptível, penso eu. A ninguém da esquerda agrada saber-se portador de algum preconceito. Mas existe, sim, preconceito em nosso meio, inclusive nos ferrenhos fãs da revolução de 1917. Muitos ainda enxergam uma Rússia comunista, o que não é nada real. Odeiam a ideia da volta da URSS, risco inexistente. Houve problemas na extinta URSS? Sim. O ocidente é profícuo em lembrar e inflar estes problemas.

Só que Putin não é comunista. Putin, suas falas, seus métodos e ações são de direita! Putin não é nazista, não é fascista, não é comunista, é só um presidente nacionalista de direita, num país capitalista, enfrentando o expansionismo estadunidense que ameaça a soberania da Rússia.

Foto: Alexei Nikolskyi/Kremlin

A visita de Bolsonaro a Putin pouco antes do início do conflito em nada altera suas causas. E o argumento “se Bolsonaro está a favor serei contra” é muito infantil.

As consequências deste enfrentamento vão variar da falta temporária de adubos a uma crise mundial, quero muito a primeira opção. O arsenal russo assusta a Europa e EUA, tanto que até agora as represálias foram sansões. Guerra mundial? Difícil, mas possível. A exigência de Putin é simples, não quer bases militares nas fronteiras. Para que a Ucrânia precisa de bases militares com aparato nuclear na fronteira com a Rússia? A Ucrânia diz querer negociar, por que não negocia? Por pressão estadunidense, que quer guerra. Os EUA precisam de guerras. Por quê?

Por vários motivos. Primeiro, pela manutenção de sua hegemonia mundial; para vender armas; para depois de arrasar, reconstruir o país, lucrando fortunas pelo trabalho. Para resolver um de seus grandes problemas, negros, latinos, imigrantes, jovens muito pobres. Por fim, pela forte tradição expansionista, bem conhecida no mundo. EUA e Otan, a verdadeira ameaça, ignorada pelos pacifistas indignados.

A Ucrânia tem um governo de extrema direita, sofreu um golpe parecido com o armado em 2016 no Brasil. Destituiu um presidente legalmente eleito, que não concordou em implantar bases militares da Otan em seu território. Na Ucrânia existe um partido nazista, mas é proibido existir partidos comunistas. Desde 2014 milhares de ucranianos identificados com a esquerda foram mortos, desapareceram ou fugiram. Sindicalistas e outros militantes foram massacrados e queimados. Quem está morrendo são os nazistas? Não sabemos. Mas a derrota da Ucrânia será também uma derrota ao nazismo. E caso ocorra a quebra da hegemonia estadunidense, o mundo será, inconteste, um mundo melhor.

Este texto é em defesa da guerra?

Não. Este texto é contra a guerra, é para identificar os reais autores e motivos do conflito. A responsabilidade do confronto é da Otan, leia-se EUA! Biden e seus asseclas europeus é que devem ser responsabilizados, cobrados, xingados. Copio aqui uma frase de Daniel Sebastiani: A guerra não é pela hegemonia, é contra a hegemonia!

Toda guerra é nefasta, detestável e qualquer democrata deve, sim, se manifestar a favor da paz. A favor das medidas necessárias para garantir a paz. Sem fazer defesas vazias de uma paz idílica, sem identificar causas e motivos destas guerras. Raivosamente, em defesa da paz.

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