Teremos a chance de um segundo turno?
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Publicado 14/01/2021 15:18

Na passagem de ano, como acontece quase sempre, a palavra mais lida e ouvida talvez tenha sido esperança.
Muita gente repetiu Paulo Freire, esgrimindo o verbo “esperançar”.
E, no concreto da resistência à ordem vigente, além das anotações acerca da derrota da quase totalidade dos candidatos “bolsonaristas” de raiz e um fio de otimismo pelo desempenho da esquerda em algumas capitais e cidades importantes, o reconhecimento de que cerca de oitenta por cento dos votos no último pleito municipal foram abocanhados pelas legendas de centro e centro-direita.
Reflexo disso, o fortalecimento do “centrão”, que na Câmara e no Senado se dispõe a dar sustentação ao governo em troca de benesses imediatas.
Fala-se até em reforma do ministério.
E que chances teremos em 2022?
Depende.
Se tomarmos como referência o maior partido de oposição, o PT, que rejeitou a alternativas de alianças amplas e alcançou o pior desempenho eleitoral desde a sua fundação, as dificuldades são muitas.
Não há sinais de que o partido liderado por Lula tenha assimilado o fracasso e esteja tirando as devidas consequências em termos de comportamento tático.
Correndo em paralelo, a legítima aspiração de Ciro Gomes, do PDT, situado no campo progressista, busca a diferenciação com o petismo como meio de ampliar apoios ao centro, porém mal administrando esse viés tático.
E apesar do enfraquecimento relativo, o presidente da República conserva a aprovação média de um terço da população, que seriam suficientes para levá-lo a um hipotético segundo turno enfrentando a oposição fracionada.
Donde se deduz o risco de uma disputa entre a extrema direita e o centro-direita, repetindo aqui o que ocorreu no último pleito presidencial na França, em que o campo progressista e de esquerda não teve outra alternativa senão votar em Macron contra Le Pen.
O pano de fundo é a crise sanitária, econômica e social, com drásticas repercussões sobre as condições de existência da maioria da população. Cerca de 40 milhões de brasileiros iniciam o ano sobrevivendo materialmente na miséria.
A agenda da resistência dos movimentos sociais – das centrais sindicais e do movimento estudantil, sobretudo – se exercida em função de pautas unitárias pode vir a contribuir para alterar, pelo menos em parte, o comportamento tático exclusivista predominante na esquerda.
De toda sorte, apesar dos danos causados pela dispersão oposicionista, a depender também do quanto se divida o centro-direita, talvez tenhamos a chance de um segundo turno.
Daqui até lá há muito chão a percorrer.