A esfera privada/doméstica – o pessoal e a intimidade das pessoas – é a essência do que ela é para além de discursos e imagem pública.
O Brasil vive uma tragédia sem precedentes na história da humanidade: a epidemia de zika vírus – com repercussões de grande monta nos direitos reprodutivos das mulheres, que é a geração de bebês com a Síndrome do Zika Congênita (conjunto de agravos incuráveis que têm a microcefalia como fenótipo mais visível, com 5.280 casos notificados, dos quais 508 confirmados de microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central e 837 descartados, segundo dados acumulados até o dia 17 deste mês).
Ainda bem que dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, não foi sagrado papa! Em entrevista à BBC em 4 de fevereiro passado, ele declarou que “os bispos ainda não se reuniram para discutir o tema”, mas que gestantes de fetos com microcefalia “devem encará-los como uma missão”.
Desde que tomei ciência da “sopa plástica do Pacífico”, por volta de 2008, minha preocupação com o lixo, sobretudo o descarte de plásticos, adquiriu uma nova dimensão, pois o que acontece no Pacífico é aterrador do ponto de vista da dialética da natureza.
Cresci ouvindo falar que São Luís era o terceiro melhor Carnaval do Brasil. A gente se apaixonava pelas marchinhas que pegavam fogo na Rádio Clube de Pernambuco, a mais ouvida nas brenhas dos sertões nordestinos.
Márcio Jerry Saraiva Barroso, colinense, jornalista, presidente do PCdoB do Maranhão e secretário estadual de Assuntos Políticos e Comunicação do governo do comunista Flávio Dino, em entrevista a Clodoaldo Corrêa e Leandro Miranda, foi magistral ao abordar o bairrismo/provincianismo incrustado na cultura ludovicense, espraiado em todas as classes sociais, que é uma postura de que tudo o que não é ludovicense é de segunda categoria, até as pessoas!
Como esperado, já que as interdições ao aborto nunca impediram a sua realização, parece que só mulheres pobres estão tendo bebês com microcefalia. Quem pode pagar R$ 5.000 pratica desobediência civil e aborta entre o pecado e o crime.
Após ler a entrevista do sociólogo polaco Zygmunt Bauman concedida a Ricardo de Querol, “As redes sociais são uma armadilha” (“El País”, 8.1.2016), decidi reler “Tecnopólio: A Rendição da Cultura à Tecnologia”, de Neil Postman (Nobel, 1994), que li em 1995 e revisito muito, por considerá-lo ainda atual, embora seja, a rigor, uma análise escrita quando a internet engatinhava.
Hildegard Angel tuitou: “Lo Prete comandando ‘Painel na TV’ em que discutem fórmulas variadas para arrancar Dilma do cargo, mesmo que não haja motivo legal para isso!” (2.1.2016). Eis o sexismo/machismo explícito! Respondi: “É impressionante a impregnação de sexismo que alicerça o ‘querer’ tirar @dilmabr do cargo! Pode analisar os mil e um desejos”.
As festas de fim de ano lembram-me muito minha avó materna, Maria Andrelina, e sua mala de “cortes de tecidos”. Além de previdente, era uma sábia de nascença e com certeza jamais entupiria um shopping atrás de presentes no Natal.
A cada publicação do Informe Epidemiológico sobre Microcefalia, do Ministério da Saúde (MS), quedo-me à impotência diante dos números. Os casos suspeitos só aumentam. Nem sequer temos a dimensão, nem como estimá-la, do que nos espera num país continental como o Brasil, onde a subnotificação é a regra!
Há gente declamando Marina Colasanti: “Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. A gente se acostuma para poupar a vida, que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma” (“Eu Sei, Mas Não Devia”, 1972).