Um dos piores males da formação brasileira autoritária é o nosso vezo de ter sempre certeza de tudo. Certezas absolutas não são coisas deste mundo, no qual tudo é relativo, empírico, sujeito à demonstração. O bom senso tenderá, sempre, para São Tomé: é preciso ver, tocar e sentir. E, portanto, na incerteza dos que não formam opinião a partir de manchetes de jornais e revistas, dispor-se a ouvir, juntar cabeças e refletir.
Creio que já passou da hora de parar de nos refugiamos em uma espécie “ilha da fantasia”. Não adianta esbravejar que Aécio, Serra e outros parlamentares da oposição são corruptos. Disso todos sabem, até mesmo aqueles que, seletivamente, os poupam de xingamentos.
No momento em que vivemos em uma sociedade polarizada pelo ódio de classes- potencializado pela grande mídia corporativa- muita gente tem preferido não expor discordâncias para não levar alimentar o discurso da intolerância. É um equívoco político. Não devemos evitar divergências para evitar o confronto. Ele é inerente à democracia.
“O governo está inteiramente aberto ao diálogo e assume como postura central o diálogo com todas as forças sociais. E pouco importa se são forças sociais que apoiam o governo ou são forças sociais contra o governo.” Ministro José Eduardo Cardozo.
1) Antes do golpe de 1964, o Brasil já demonstrava sua vocação para o bipartidarismo com a a crescente divisão do eleitorado entre PTB e UDN. Com a redemocratização, esta vocação continua com a polarização PT-PSDB.
Após a derrota do Brasil, choveram análises na grande imprensa associando o fracasso da seleção a uma urgente necessidade de reorganizar o país ( não apenas reformular as instâncias responsáveis pelas diversas práticas esportivas) em moldes "modernos".
É preciso repetir, uma, duas, quantas vezes for necessário. Não condenemos, nós do campo democrático-popular, as manifestações de junho do ano passado. Não considero os que não concordam com o atual governo como atores necessariamente reacionários. Numa sociedade como a nossa, totalmente fracionada, a democracia continua sendo meramente formal.
Em poucos momentos da história, a justiça foi tão achincalhada como na tarde de sexta-feira.
Ao invocar o golpe de Estado de 1964, os editorialistas receitavam o antídoto contra a guinada da subversão como pretexto para barrar o avanço social e impedir a tomada de consciência política.
Como realizar uma tarefa desmedida, a retomada da agenda neoliberal, se na direita nada há que não seja um imenso vazio? A sua ideologia, incapaz de se reciclar, continua se apoiando em um pensamento econômico que, além do fracasso retumbante, exige para sua implantação, a derrocada das mínimas condições democráticas vigentes.
A meta fundamental dos estrategistas da oposição, concentrados nas redações do Instituto Millenium, ia além da divisão da base de sustentação do governo Dilma. O objetivo era mais amplo. Através de factoides, que ignoravam os desmentidos das lideranças partidárias, a estratégia consistia em criar um cenário de ficção onde partidos do campo progressista abandonariam o governo em nome de projetos próprios, criando um céu de brigadeiro para o tucanato em 2014.
É difícil dizer o que mais impressiona: se a grande imprensa ter perdido a importância que detinha até os anos 1990 – quando ainda tinha relativa influência no cenário político -, ou a desfaçatez com que seus jornalistas, amadurecidos no tapa na arte de reescrever a história, sonegam dados e fatos, Rei dos instrumentos, por sua extraordinária capacidade de reproduzir os sons orquestrais do reacionarismo brasileiro, realizando recitais a pedidos do Instituto Millenium.