É de grande interesse para os trabalhadores e para os dirigentes sindicais compreenderem a contradição que existe entre o bolsonarismo e a realidade, ou seja, a contradição entre as expectativas despertadas no eleitorado e na sociedade por suas promessas e pregações e o que efetivamente fará o governo do capitão.
As declarações, postagens, reuniões, visitas e indicações ministeriais feitas pelo presidente eleito (impondo às mídias sua pauta durante o período de transição) parecem confusas e contraditórias, mas têm confirmado e radicalizado as posições que ele expressou durante sua campanha e que foram referendadas por seus eleitores. Nelas não se nota nenhum traço de estelionato eleitoral.
Dizem que os grandes animais antediluvianos ao sofrerem uma ferida letal levavam um tempo enorme para morrer. Seu cérebro, minúsculo, era tardo em processar tal informação.
Em um documento da Frente Parlamentar Evangélica de 24 de outubro estava explicitada a proposta de extinção do ministério do Trabalho e da repartição de suas atribuições por meio de secretarias subordinadas a alguns dos ministérios restantes (que seriam 15).
Durante vários anos e em ondas sucessivas os trabalhadores brasileiros – e seu movimento sindical – sofreram as consequências da globalização da economia (com a reestruturação do sistema produtivo para atender os rentistas), da pior recessão de nossa história e das agressões desencadeadas pela lei trabalhista celerada.
Ontem, dia 22, alguns sindicatos em todo o país cumprindo o mandato determinado pelas centrais sindicais realizaram panfletagens e manifestações em locais de trabalho e em pontos de concentração popular contra a deforma previdenciária.
Com sua experiência e bom senso os dirigentes sindicais não devem brincar com fogo nos arranjos do novo governo.
Os jornalões registraram, com números e análises, os dois grandes efeitos da lei trabalhista celerada até agora. Foram as quedas fortes nos números das ações trabalhistas e das negociações e acordos.
Frente aos riscos da estratégia bolsonarista de dividir os trabalhadores para melhor derrotá-los erguendo uma muralha da China entre a base sindical organizada e os milhões de trabalhadores informais, subutilizados, aposentados e desempregados o movimento sindical deve reforçar sua unidade de ação, manter a sua agenda prioritária, mas adotar também a linha Mano Brown para falar com a “periferia” do movimento e ser ouvido por ela.
Quantificada a derrota o movimento sindical em todas as suas expressões e lideranças deve começar a empreender o caminho da resistência.
Quase tudo já foi dito e agora só nos resta ouvir a voz das urnas.
No apagar das luzes de seu governo, repudiado por todos, o presidente da República decretou em 15 de outubro a criação da Força-Tarefa de Inteligência para o enfrentamento do crime organizado no Brasil.