Nesses 500 anos de descobrimento do Brasil, 350 foram sob o regime escravocrata. Regime no qual se permitia tudo com os negros, inclusive o estupro. Aliás, esta era uma prática muito comum e talvez a maior das violências que se cometia neste país contra os escravizados.
A cada triste notícia que recebemos sobre a morte de um ídolo, a retrospectiva mais comum é voltada aos feitos realizados ao longo de sua carreira, seja ela política, social, artística ou esportiva. Quando uma lenda do esporte morre, naturalmente relembramos suas conquistas e melhores momentos, homenageando sua memória com as lembranças vitoriosas do passado.
Nasci em Santo André, mas cresci em São Paulo e sempre considerei a capital uma cidade grande, não só territorialmente, mas também na dimensão humana e cultural um retrato do Brasil com todas suas faces e contrastes.
Na culinária, o vatapá, o acarajé, a feijoada, o mugunzá, o caruru, o quiabo, a pimenta, o leite de coco e o azeite de dendê. Na religião, o candomblé, a umbanda e a quimbanda. Nos instrumentos, o tambor, o atabaque, a cuíca, a marimba e o berimbau. Na música, o samba, o afoxé, o maracatu, a congada, o jongo, a umbigada e a capoeira.
Há mais de uma década, o Brasil se tornou referência mundial em uma área liderada pelos Estados Unidos desde os anos 60, quando, por conta dos intensos conflitos raciais, se deu a luta e a fundamental conquista dos direitos civis – uma série de medidas que visavam pôr fim a intensa discriminação racial e diferenças econômicas e sociais entre brancos e negros norte-americanos.
Em um mundo no qual lutamos diariamente para combater a discriminação racial e nos cansamos por ter que debater, discutir e argumentar contra pessoas que parecem não ouvir, alimentadas por um discurso cego e de ódio, uma imagem, muitas vezes, fala por si, e por nós.
Houve um tempo em que Tradição, Família e Propriedade eram defendidos até na bala se preciso fosse. Organizações como a TFP e Liga das Senhoras Católicas impunham seu estilo de vida, onde o padrão idealizado de mulher era ser bela [branca], recatada [submissa], do lar [de casa] e burguesa.
De tempos em tempos, somos presenteados com algumas figuras que parecem escolhidas a dedo pelos deuses para chocar e encantar o mundo. Seja por desafiarem paradigmas ou padrões, seja por inovarem a trajetória da humanidade ou simplesmente por serem brilhantes.
Há quase dois anos conversando com um velho amigo e deputado federal lá da região do ABC paulista eu o perguntava como ele via a política nesta legislatura, já que o mesmo acabava de se reeleger e iniciar um novo mandato. Para minha surpresa ele falou que este seria seu último mandato e que em 2018 deixaria o parlamento para se dedicar aos estudos e, possivelmente, dar aula em uma universidade.
A resistência negra na diáspora africana se faz por diversas vertentes e, sem dúvidas, as de cunho religiosos são fundamentais e durante séculos foram a essência de nossa sobrevivência. A miscigenação de povos, cultura e religião fez surgir novas formas de proferir a fé, seja na catolização das religiões de matrizes africanas, derivando o sincretismo religioso como a brasileiríssima umbanda, seja no cristianismo diferenciado expresso nas igrejas negras -antes segregadas- nos Estados Unidos.
O Instituto Data Popular fez uma pesquisa em 2014 indicando que, apesar de 92% dos brasileiros acreditarem que há racismo no país, somente 1,3% se considera racista. Ou seja, quase todos admitem um crime sem criminoso.
Hoje, a primeira capital do Brasil completa 467 anos. A cidade, que foi fundada como São Salvador da Baía de Todos os Santos, é patrimônio cultural da humanidade e sua história se confunde com a do próprio Brasil.