Miguel Rafael Acea Baró havia chegado fazia poucos meses de Cienfuegos, Cuba, para trabalhar no posto de saúde do Tucão, em Vilar dos Teles, na Baixada Fluminense, quando sentiu na pele, pela primeira vez, o preconceito. “Fui à casa de um paciente idoso e ele falou para mim que não queria ser atendido. Disse que eu era muito jovem. ‘Mas eu tenho 50 anos!’, respondi. Ele disse que não, que eu era cubano…”, lembra.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (30) pela constitucionalidade do Programa Mais Médicos, criado em 2013 para melhorar o atendimento na saúde pública. Por 6 votos a 2, a Corte considerou improcedente a ação direta de inconstitucionalidade protocolada pela Associação Médica do Brasil para questionar a validade do programa.
A implementação do programa Mais Médicos serviu para trazer à luz publica o escândalo que é o processo de formação e profissionalização dos médicos das universidades públicas. O governo teve que apelar para médicos cubanos, porque os médicos brasileiros, formados gratuitamente nas melhores universidades brasileiros, se negavam a ir atender as pessoas onde mais se precisa que eles atendam.
Por Emir Sader
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) participou nesta quinta (26/10), no Senado Federal, da avaliação do programa Mais Médicos. O assunto foi tema de audiência pública, requerida pela senadora Lídice da Mata (PSB-BA), na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), com o objetivo de ajudar na elaboração do relatório de avaliação do programa pela comissão. Diante da Nova Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), o programa pode sofrer impactos.
O ministro da Saúde do governo Temer, Ricardo Barros, mais uma vez com a desculpa de fazer economia, abre o saco de maldades contra a população de baixa renda, ao criar uma regra que diminui o número mínimo exigido de médicos a serem contratados para atuar em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Tais equipamentos públicos recebem grande parte das urgências e emergências da população, como pressão e febre altas, fraturas, cortes, infarto e outras.
Por Helena Sthephanowitz*
“Percebo que o programa ‘Mais Médicos’ está caminhando para um desfecho final, visto que, essa é a mensagem política e dominante do momento. Desse modo, a todos vocês, colegas cubanos, que estão distantes das suas casas e das suas famílias, eu deixo o meu abraço afetuoso e carinhoso. Nenhum de vocês tem culpa pela grave crise política e ética que nos assola nesse momento e, portanto, não mereciam receber quaisquer agressividades dessa sociedade”.
Por * Régis Eric Maia Barros
Mabel Guillot Sanches, de 39 anos, foi achada morta na parte externa de casa, na última quarta-feira (23), em Iguatu, onde atuava pelo programa Mais Médicos há três anos. Com o fim do contrato de prestação de serviço no Programa de Saúde da Família, Mabel aguardava, junto a outros oito médicos cubanos, a emissão das passagens para voltar a Cuba. A previsão de retorno era a próxima segunda-feira (28).
Sob pressão de entidades do setor, Michel Temer começa a deixar clara a pouca disposição em manter e expandir um dos principais programas do governo federal na área da Saúde, o Mais Médicos. Em público, o governo tenta vender à sociedade a ideia de um suposto aumento dos investimentos na iniciativa, bem avaliada por usuários e prefeitos.
A adesão de Contagem ao Programa Mais Médicos tem um saldo positivo para a cidade. Prova disso, é que, hoje, as 95 equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), possuem um profissional médico. O que significa que, após a adesão ao programa, houve um aumento de 59% na cobertura médica, que passou de 41,48%, em 2013, para 100%, em dezembro de 2015.
Desde que assumiu o Ministério da Saúde, o ministro Ricardo Barros disse que o plano do governo Temer é “reformular” o programa Mais Médicos, com a redução da participação de médicos estrangeiros, particularmente os cubanos. A medida pretende se efetivar nesta sexta-feira (11), com o lançamento de um edital do programa.
Estarrecido com a recepção agressiva aos médicos cubanos em Fortaleza, cearense Manoel Fonsêca e parceiros tiveram a ideia de criar um grupo de médicos que pudesse fazer oposição à visão elitista de boa parte da classe médica. Surgia, então, o Médicos pela Democracia. Fonsêca tem esperanças de que o Brasil vai superar o golpe. Mas a luta é fundamental. “Precisamos ocupar as ruas em defesa da democracia e dos direitos sociais duramente conquistados. Não há outra saída: Diretas, já!”.
Em artigo publicado no Viomundo, o Hêider Pinto, médico sanitarista e ex-coordenou do programa Mais Médicos no governo Dilma Rousseff, afirma que "no Ministério da Saúde o discurso é de “economia”, mas a prática é de desmonte".