Palestinos sofrem segunda onda da pandemia e voltam à quarentena

O lockdown é reimposto na Cisjordânia após um aumento acentuado nos casos. Em Gaza, palestinos morrem devido à prioridade dos hospitais a doentes de covid-19.

Lojas são fechadas em Nablus depois de uma segunda onda da pandemia

A Autoridade Palestina anunciou planos para reimpor as restrições à pandemia em toda a Cisjordânia, após um forte aumento no número de novos casos no território.

3.080 casos de covid-19 entre palestinos, 9 mortes
84% dos casos na Cisjordânia
4% em Gaza
12% em Jerusalém
27.047 casos confirmados em Israel; 324 mortes

Ibrahim Milhim, porta-voz da Autoridade, disse durante uma entrevista coletiva na quarta-feira que todas as áreas da Cisjordânia ficarão trancadas por cinco dias a partir de sexta-feira. Todos os negócios serão fechados, com exceção de padarias, supermercados e farmácias.

Um total de 2.908 pessoas no território contraiu o vírus desde o início de março – e mais de 2.200 desses casos ocorreram apenas nas últimas duas semanas, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina. O número de mortes relacionadas ao vírus no território passou de três para oito no mesmo período.

Mais de 80% dos casos atuais estão ligados à cidade de Hebron, a maior e mais populosa cidade da Cisjordânia, que começou a fechar na noite de quarta-feira. Na quinta-feira (25), Hebron registrou um total de 810 casos. Para dar uma escala a esse número, no início da semana havia 473 casos.

Milhim disse que o bloqueio de cinco dias pode ser estendido e pediu aos palestinos que sigam as diretrizes de distanciamento social e usem máscaras, alertando que haverá consequências para quem não cumprir.

Cautela e canja de galinha

Embora o salto seja significativo, parecia relativamente contido semanas antes. Novos fechamentos foram anunciados em Hebron e Nablus, mas seriam medidas temporárias em vigor apenas por cinco dias e 48 horas, respectivamente, mas que foram ampliadas, de acordo com o Ministério da Saúde da Palestina.

Além disso, “casamentos, festas de recepção, festas de formatura e todas as formas de reunião” são proibidos em toda a Cisjordânia. As autoridades de saúde alertaram: “estaremos monitorando a aplicação desses procedimentos por cinco dias e, se não forem aplicados, recorreremos a outros procedimentos mais rigorosos”.

Dos novos casos, a maioria não é grave. Apenas 30 de Hebron e Belém estão sendo tratados em hospitais. Em Belém, onde o surto de coronavírus começou inicialmente na Cisjordânia, não há novos casos. Da mesma forma, ainda existem algumas áreas aparentemente intocadas pelo covid-19. O Ministério Palestino da Saúde ainda não encontrou nenhum caso em Jenin, Qalqilya ou Tubas.

Muitos se perguntavam se o fim das medidas de lockdown fora prematuro. Enquanto as regulamentações em torno de escolas, igrejas, mesquitas e lojas começaram a ser suspensas no final de maio, as diretrizes de distanciamento social que existiam e ainda estão em vigor foram ignoradas. A população questionou frustrada a falta de esforço do poder público contra a pandemia.

Embora a pandemia de coronavírus parecesse diminuir, as coisas mudaram em 20 de junho, quando foi registrado o maior número único de novas infecções desde março. No total, 86 novos casos foram encontrados chegando aos patamares exponenciais de agora.

O governador de Hebron e o Ministério Palestino de Saúde apontaram “grandes encontros” e a falta de máscaras como a causa. Os testes foram intensificados na área com “mais de mil swabs [coletador de amostras] em menos de quatro horas” apenas nesta quarta-feira, só na cidade de Hebron, de acordo com um post no Facebook do Ministério da Saúde. O Ministro da Saúde Mai Al-Kaila disse no mesmo dia: “Realizamos mais de 100.000 exames laboratoriais de suspeitas de infecções por coronavírus desde o início de quando começamos a monitorar o vírus na Palestina”.

Vale ressaltar que Israel também está vendo um pico em novos casos. De 21 a 24 de junho, foram registrados 1.411 novos casos. Em resposta, as autoridades de saúde também travaram bloqueios parciais ou “zonas restritas” em uma cidade inteira e em alguns bairros.

Problemas em Gaza

Pelo menos 73 pessoas morreram e cerca de 1.200 não têm acesso a cuidados intensivos na Faixa de Gaza devido a recursos médicos limitados durante a crise do covid-19, segundo a instituição de caridade HelpAge International.

A HelpAge International é a maior rede global que enfatiza direitos antidiscriminação e assistência médica para idosos e opera em 80 países. Em parceria com a Sociedade El Wedad de Reabilitação Comunitária em Gaza, o grupo divulgou um relato bastante sóbrio do que a diferença de capacidade significa para os pacientes mais doentes de Gaza que não têm covid-19, mas tiveram seus cuidados interrompidos.

O comunicado falou em centenas de cilindros de oxigênio destinados exclusivamente a pacientes de covid-19, em detrimento de outros. 850 pacientes que antes dependiam do uso de cilindros de gás oxigênio no hospital não conseguem mais usá-los e não podem pagar US$ 350 para comprar os seus próprios, de acordo com o Ministério da Saúde.

Desde o início da pandemia, foi informado que Gaza possuia apenas 60% de seu estoque necessário de dispositivos médicos e medicamentos, mas, é a primeira vez que ouve-se falar de números concretos de palestinos morrendo porque os cuidados médicos foram suspensos pela pandemia.

“O Hospital Europeu em Khan Yunis, na faixa de Gaza, fechou suas portas efetivamente a todos os pacientes, exceto de covid-19. 3.500 pacientes que dependem dele para cuidados de saúde tiveram que abrir caminho para um afluxo potencial de pessoas que sofrem com o vírus. Isso afetou particularmente pacientes com doenças renais e cardíacas, bem como aqueles que sofrem de dificuldades respiratórias. Eles tiveram que se registrar em outros hospitais, muitos dos quais não têm o equipamento médico necessário e têm longas listas de espera”, relatou HelpAge e El Wedad.

Um casamento virou funeral

Ahmed Erakat

A advogada de direitos humanos Noura Erakat está sofrendo com a morte de seu primo. Ahmed Erekat morreu aos 27 anos na terça-feira depois de ter sido baleado por um soldado israelense em um posto de controle, momentos depois que seu veículo colidiu com uma barraca na barreira. Ahmed teve tratamento médico negado e sangrou por uma hora e meia, enquanto as equipes médicas palestinas foram impedidas de tratá-lo, segundo seus parentes.

Ahmed estava a caminho de buscar sua irmã em um salão de cabeleireiro do outro lado do posto de controle perto de Belém. Era o dia do casamento de sua irmã. O casamento dele deveria acontecer em julho.

Nem em meio a uma pandemia, palestinos são poupados do horror do apartheid.

Com informações de Mondoweiss.

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