Inflação menor e queda do dólar apontam que é possível baixar juros 

Desaceleração da inflação em março e queda do dólar aumentam expectativa para que finalmente Banco Central iniciei processo de redução da taxa Selic para destravar economia

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A semana tem sido marcada por sinais positivos na economia. O dólar está em queda, fechando em R$ 5 na terça-feira (11), menor valor em dez meses, enquanto a bolsa de valores subiu mais de 4%, no seu melhor dia desde outubro. Um dos fatores a influenciar esse quadro foi a desaceleração da inflação, que fechou março abaixo do que era previsto por economistas. Pela primeira vez em dois anos, a inflação acumulada em 12 meses ficou menor do que 5%.

A redução no ritmo da inflação ficou demonstrada na divulgação, nesta terça-feira (11), do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do país, que ficou em 0,71% em março e em 4,65% no acumulado em 12 meses. Na comparação com fevereiro, a inflação desacelerou — naquele mês, o índice havia sido de 0,84%. 

“Vale lembrar que a inflação em março não caiu mais porque tivemos a reoneração dos combustíveis, o que está correto, pois a política dos subsídios a alguns segmentos vai na contramão do reequilíbrio fiscal que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta promover”, explica ao Vermelho a economista Daniela Cardoso, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp). 

Ela pondera que, em relação à queda do dólar, “podemos mencionar a visão otimista como o mercado está recebendo as políticas econômicas do governo Lula. Não acredito que o dólar se mantenha abaixo dos R$ 5,10, pois temos uma guerra na Europa ocorrendo e a China em fase de reformulação de sua cadeia produtiva, o que encarece o preço dos produtos importados. De todo modo, a queda neste momento é muito positiva, principalmente se lembrarmos que muitos analistas acreditavam que o dólar iria a R$ 8,00 se Lula ganhasse a eleição”. 

Nesse cenário, aumenta a expectativa de que o Banco Central (BC) finalmente inicie o processo de queda da taxa de juros, que hoje figura em 13,75%, uma das mais altas do mundo. “Veja os efeitos da queda da inflação, o câmbio com o real mais valorizado, variáveis se estabilizando, curva de juros futuros caindo. Há sinais evidentes, e economistas de várias escolas se manifestando até pela imprensa, que dizem que chegou o momento de iniciarmos uma trajetória de queda consistente [de juros] com o que o Brasil atingiu”, declarou o ministro Fernando Haddad ao jornal O Globo nesta quinta-feira (13). 

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Na avaliação de Daniela Cardoso, “se a inflação continuar a cair, a tendência é de queda da Selic também”. O que deve ser revisto no Brasil, diz, “é a meta de inflação, não faz mais sentido termos uma meta de inflação tão baixa”.

Segundo afirmou à BBC o Nobel de economia, Joseph Stiglitz, “metas de inflação – que na Europa [e nos EUA] é de 2%, e 3% [no Brasil] – são tiradas do nada. Elas não têm base alguma na teoria econômica ou na experiência econômica”. 

Para ele, “há um custo enorme em ter taxas de juros altas. Isso coloca o Brasil em desvantagem competitiva, estrangula as empresas brasileiras, enfraquece a economia do país”. Então, completou, “o presidente Lula está absolutamente correto em estar preocupado com essas questões”. 

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