Apesar da alta de casos, ministério não confirma 2ª onda de Covid-19
O número de casos e mortes por Covid-19 dispara no Brasil e no mundo. Ministério da Saúde não confirma segunda onda por falta de “dados consistentes”
Publicado 20/11/2020 18:06 | Editado 20/11/2020 18:13

Os números de infectados e óbitos pela Covid-19 cresce em novembro. Segundo dados coletados nas Secretarias de Saúde pelo consórcio de veículos de imprensa formado por G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL e atualizados ontem (19) à noite, a média móvel de mortes está em 544. Em comparação com duas semanas atrás, o aumento é de 54%, o que demonstra uma tendência de aumento acentuado na curva de mortes. O governo, no entanto, afirma que não há “dados consistentes” que confirmem a segunda onda de Covid-19 no país.
Considerando os dados reunidos pelo consórcio de veículos de comunicação, foram 644 mortes em 24h. Desde o início da pandemia, são 168.161 óbitos. Em relação a casos confirmados, foram 35.686 em 24h totalizando 5.983.089 registros desde o primeiro infectado em fevereiro.
São 13 estados que apresentam o aumento na média móvel de mortes: PR, RS, SC, ES, MG, RJ, SP, GO, AP, RO, RR, TO e RN. A região Norte do país possui os dois estados que apresentam o maior crescimento de óbitos: Amapá (250%) e Roraima (400%). O Rio de janeiro (152%), Goiás (119%) e São Paulo (89%) completam a lista dos cinco estados com maior aumento na média móvel.
São Paulo, inclusive, registrou aumento das internações de pacientes com a covid-19 em 44,7% dos hospitais privados nos últimos 15 dias, de acordo com o levantamento realizado pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp).
Na última sexta-feira (13), o presidente Jair Bolsonaro afirmou a segunda onda da pandemia de coronavírus é uma “conversinha” após destacar o funcionamento dos ministérios durante a pandemia. “E agora tem conversinha de segunda onda. Tem que enfrentar se tiver, porque se quebrar de vez a economia, seremos um país de miseráveis. Só isso”, declarou o presidente.
O Ministério da Saúde se manifestou por meio de entrevista coletiva do secretário-executivo da pasta, Elcio Franco. Ele disse nesta quinta-feira (19) que não há “dados consistentes” para dizer se houve acréscimo de casos, internações e óbitos no Brasil. Um ataque hacker aos dados das secretarias teria causado “instabilidade” no sistema de controle dos indicadores.
“Devido à instabilidade no sistema nas últimas duas semanas, decorrente de ataque hacker, nós não temos uma base de dados consistentes fazer uma afirmação se realmente houve ou não um acréscimo na quantidade de casos, internações em leitos clínicos e de UTI, e de óbitos”, respondeu o secretário sobre a segunda onda de Covid-19 no Brasil.
O secretário de Vigilância da pasta, Arnaldo Medeiros, reforçou a resposta do secretário da pasta ao afirmar em relação aos casos de Covid-19 que “é muito difícil fazer uma previsão se está aumentando ou diminuindo”, pois os sistemas ainda estariam em recuperação do ataque hacker.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) solicitou via ofício uma reunião com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para tratar do “enfrentamento da 2ª onda da Covid-19”. Segundo a entidade, uma nova escalada de casos pode levar a uma “tragédia epidemiológica de proporções piores” do que a primeira proliferação da doença no país. Ainda segundo o documento, os secretários querem R$ 3 bilhões em recursos e 20 milhões de testes rápidos, assim como a elaboração de uma estratégia de testagem ampla da população.
Vacina
Durante a semana, as farmacêuticas divulgaram novos dados referentes às vacinas que estão desenvolvendo. Na quarta-feira, a farmacêutica Pfizer e o laboratório BioNTech anunciaram o fim da fase três de testes e a eficácia de noventa e cinco por cento da vacina no combate ao vírus.
Dois dias antes, na segunda feira, a farmacêutica Moderna anunciou com base em um estudo preliminar da fase três que a vacina em desenvolvimento possui eficácia próxima a noventa e cinco por cento.
A Coronovac, produzida pela empresa chinesa Sinovac e em testes no brasil, foi considerada segura e induz resposta imune de acordo com estudo publicado também na segunda-feira.
A vacina produzida na Rússia, a Sputnik V, tem eficácia de noventa e dois por cento segundo informações divulgadas pelo país, mas que ainda não foram revisados.
A campanha de vacinação é um tema delicado para o governo, depois da politização do assunto por parte do presidente Jair Bolsonaro em disputa com o governador de São Paulo, João Dória. O presidente afirmou mais de uma vez que a vacinação não será obrigatória e comemorou a suspensão dos testes da Coronovac no início do mês.
O Ministério da Saúde anunciou sem muitos detalhes na quinta-feira (19) que pretende lançar em dezembro uma campanha sobre a eficácia de vacinas que podem ser usadas contra a Covid-19 no futuro. Segundo o secretário de Vigilância em saúde, Arnaldo Correia, a meta é informar sobre o processo de produção e aprovação de vacinas para dar mais segurança à população.
Segunda onda de Covid-19 no mundo
A segunda onda já é observada em países ao redor do mundo. No último sábado (14), A OMS anunciou que 660.905 novos casos de Covid-19 foram registrados no planeta, o maior número até o momento. Desde junho, China, Alemanha, Reino Unido e a região da Palestina apresentam indícios que uma segunda explosão de casos ocorreria. O mercado financeiro, inclusive, reagiu a possibilidade de uma nova onda de coronavírus com o aumento do dólar no final de outubro.
Nos Estados Unidos, a doença foi a responsável pela morte de aproximadamente 250 mil americanos e a média diária é em torno de 1.000 óbitos. Donald Trump descartou na semana passada estabelecer um lockdown a nível nacional, mas alguns estados adotaram medidas para conter o avanço da segunda onda. Em Michigan, as escolas de segundo grau e faculdades interromperam o ensino presencial, enquanto os restaurantes estão proibidos de oferecer refeições em espaços fechados em Michigan desde quarta-feira (18/11). Na capital Washington, academias, cinemas, teatros e museus estão fechados.
A Europa, após a redução dos casos em abril, havia flexibilizado as medidas de restrição da população. O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou um segundo bloqueio nacional pelo menos durante todo o mês de novembro. As novas medidas adotadas a partir da sexta-feira (30/10) determinaram que as pessoas só podem sair de casa para tarefas essenciais, comprar mantimentos ou ir ao médico. Um toque de recolher foi estabelecido em algumas regiões para inibir o deslocamento desnecessário de 46 milhões de pessoas no país.
A Alemanha também adotou o lockdown no mês de novembro, e manterá em funcionamento apenas escolas e lojas. Segundo a chanceler Angela Merkel, será necessário um “grande esforço nacional” para combater a pandemia do coronavírus.
A Itália fechou cinemas e academias na semana passada para tentar conter o avanço do vírus em novembro e permitir que as famílias se reúnam no natal. Agora o governo do Reino Unido está sob pressão para agir no mesmo sentido.
Com informações de G1, O Globo e Folha de S.Paulo