Certa vez em Natal, num debate promovido por sindicalistas, em meio à acesa polêmica um dos debatedores, filiado ao recém-fundado PT, discordando francamente da minha opinião e sem argumentos consistentes, de súbito levantou-se e abandonou a reunião com o solene protesto: “Essa conjuntura está muito burguesa para o meu gosto!”
Certa vez, condenado a repouso forçado por haver fraturado o pé, um amigo a quem fui visitar em sua residência me recebeu com o controle remoto à mão e o olhar enfadado diante da TV: – Meu amigo, a Humanidade não tem mais jeito, nós é que somos teimosos e queremos mudar o mundo. Passo o dia aqui de canal em canal e só tem notícia ruim: calamidades naturais, corrupção, morte…
Desde priscas eras seres humanos de diferentes culturas perseguem o desejo de prever o futuro. Seria uma beleza. Quem sabe pudéssemos evitar catástrofes – ou melhor nos prepararmos para enfrenta-las -, saber antecipadamente o time campeão em torneio duramente disputado e mesmo a sorte no amor.
“O partido do socialismo”, é a assinatura, como sempre, dos anúncios do PCdoB na TV e no rádio. – Gosto de vocês porque são coerentes, não abrem mão dessa bandeira, comenta um velho amigo. Mas completa: – Mas é muito difícil ter socialismo no Brasil!
É como uma lei objetiva: toda sociedade quando diante da possibilidade de mudanças de grande envergadura, vê-se desafiada a repensar sua trajetória e o peso e o papel de suas instituições. Ocorre no Brasil dos nossos dias.
Estamos nos primeiros cem dias do governo Dilma, cedo demais para firmar juízo de valor consistente. Entretanto, surgem sinais de um novo cenário em formação em que o papel dos agentes políticos tende a ser pelo menos parcialmente diverso do que ocorreu nos dois governos sucessivos do presidente Lula.
Leio no Twitter da prefeitura de Olinda informações quentíssimas sobre o desfile das “Virgens” e, na postagem seguinte, a conspícua notícia de que a partir das 10 horas haverá canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. Carnaval é assim: contrastes para todos os gostos.
O anúncio da presidenta Dilma de que dará prioridade ao combate à miséria não é em si errado. Antes soa positivo e sublinha o compromisso social da gestão que se inicia. Entretanto, pode dar margem a interpretações incorretas, na medida em que se entenda nesse propósito um retorno ao “tudo pelo social” e coisas do gênero.