Lula defende biodiversidade amazônica e proteção aos povos indígenas

No Amazonas, Lula defendeu a geração de empregos, a Zona Franca de Manaus, combate às mudanças climáticas, proteção aos povos indígenas e à riqueza biológica da floresta.

Lula se encontra com movimentos sociais e indígenas da Amazônia Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu agenda de campanha no Amazonas e encontrou-se com representantes de entidades indígenas e movimentos sociais, na tarde desta quarta-feira (31), em Manaus. Na ocasião, mostrou o que tem preparado em suas diretrizes de governo para os diversos temas de interesse dos povos da região.

Na sede do Museu da Amazônia, no meio da floresta, ele defendeu que a biodiversidade da Amazônia é uma riqueza a ser estudada e explorada de forma adequada,. O objetivo é gerar riqueza para os que vivem na região e benefícios para todos. Esta visão contrasta tanto com aqueles que defendem a floresta como um santuário alheio aos povos que a habitam, quanto com os que a enxergam de modo predatório, destruindo toda sua biodiversidade para estruturar cadeias econômicas que não têm relação nenhuma com as riquezas naturais já disponíveis.

“Embora a Amazônia seja território soberano do Brasil, a riqueza produzida, a biodiversidade tem que ser aproveitada por todo habitante do planeta Terra” disse Lula. Este é outro ponto que dialoga com a sociedade amazônica para desconstruir a visão de um território que pode beneficiar não apenas aqueles que lá moram, mas toda a humanidade. Para o ex-presidente, dessa maneira, o país receberá recursos para a realização de pesquisas que não são feitas por falta de verba.

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A contribuição indígena

O candidato presidencial recebeu das entidades reunidas na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), um documento com prioridades para proteção da floresta e dos povos que vivem lá.

Lula garantiu a indígenas que, se ganhar as eleições, demarcará as terras que precisarem ser demarcadas e que cuidará para que as já existentes não sejam invadidas. Ele afirmou que os povos indígenas terão um papel muito importante no novo Brasil. “Vocês vão tomar conta do espaço onde vocês moram com segurança, com respeito e com cuidado da parte do governo”.

Ele disse que vai atender demandas históricas e buscará reconstruir o que tem sido desmantelado pelo atual governo na região. Não faltarão recursos para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Os prefeitos serão importantes no processo de combate às queimadas e nas parcerias para programas.

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Ele aproveitou a ocasião para defender a criação do Ministério dos Povos Originários, onde indígenas poderiam colaborar ainda mais na preservação da floresta e “decidirem sobre suas próprias vidas”.

“Eu tenho dito que não haverá mais garimpo ilegal nesse país. Não é possível! Eu conheço os tapajós, o Rio Tapajós, e ver ele banhado de mercúrio… a gente não pode acreditar que o ser humano seja insensível de não perceber o mal que ele está causando para o futuro do planeta”, completou.

Acordos climáticos

Lula lembrou também que a Amazônia não é um bioma apenas do Brasil e que demanda uma atenção regional para sua proteção. Ele disse que vai mobilizar uma aliança entre países amazônicos para desenvolvimento sustentável da floresta. A Amazônia é um bioma com território que abrange nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Peru e Suriname.

O ex-presidente defendeu um pacto entre esses países para que a região se desenvolva de maneira sustentável, gerando emprego, renda e melhor qualidade de vida para a população.

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“Estou convencido de que nenhum de nós quer transformar a Amazônia num santuário da humanidade. O que nós queremos é tirar proveito da biodiversidade para gerar melhores condições de vida para os povos que moram na floresta. É preciso se colocar em acordo com outros governos da América do Sul para que a gente trate, sem abrir mão da nossa soberania, de como convidar cientistas do mundo inteiro para participar da exploração de um mundo megadiverso”, disse.

Lula defendeu que o Brasil volte a ter participação mais forte nas discussões sobre a governança global das Organizações das Nações Unidas (ONU) na questão ambiental. “Nós defendemos uma ONU fortalecida, com a participação de outros países e com poder de decisão, sobretudo na questão climática, senão a gente vai ficar fazendo discurso e não vai cumprir”, disse, citando o Protocolo de Kyoto que não foi assinado e o acordo de Paris que não foi cumprido.

Lula afirmou ainda que já passou o tempo onde as pessoas achavam que o aquecimento global era assunto apenas para intelectuais. “Antigamente parecia piada quando escutávamos o Evo Morales dizer ‘vamos cuidar da madre terra’. Hoje todo mundo tem responsabilidade de que é muito importante cuidar da nossa floresta, da nossa água”, declarou.

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Foto: Ricardo Stuckert

Zona Franca de Manaus

Antes do encontro com os movimentos locais, o ex-presidente visitou a fábrica da Honda. Lula disse, em conversa com jornalistas na saída da visita, que a Zona Franca é patrimônio do desenvolvimento da Região Norte e que os incentivos concedidos à área serão preservados em seu governo, e não haverá alteração com a reforma tributária. De acordo com ele, com incentivos fiscais para instalação de empresas, a área precisa continuar gerando emprego e renda na região.

Ele disse também que a informalidade é um grave problema no Brasil, que atinge muito o Amazonas. “E as pessoas acham que isso é emprego”, disse ele, destacando a necessidade de o trabalhador ter direito e proteção. “As pessoas têm que ter registro em carteira, direito a férias, descanso semanal remunerado e um sistema de seguridade social”, defendeu o ex-presidente.

“A Zona Franca vai ficar preservada. É um compromisso que a gente tem desde que fui candidato em 1989. A Zona Franca tem estabilidade por muito tempo”, garantiu. Lula lembrou que foram os governos petistas que renovaram os benefícios da área. “Eu, quando era presidente, renovei por dez anos. Depois, a presidenta Dilma renovou por 50 anos”, contou.

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Fundamental para a economia do Amazonas, a Zona Franca reúne, hoje, cerca de 600 indústrias, que geram 500 mil empregos diretos e indiretos, mas já foi maior em seu governo.

Para além das ações voltadas diretamente para a Zona Franca, os governos Lula e Dilma fizeram muito pelo Amazonas e os Estados do Norte. O mundo celebrou a redução de 78% na taxa de desmatamento entre 2004 e 2015. Houve criação do ICMBio, em fortalecimento ao Ibama e à Funai e a instituição da chamada Bolsa Verde, com benefício de R$ 300 para famílias vulneráveis que vivem em áreas de reserva.

Em todo o Estado, o Luz para Todos beneficiou 109 mil famílias e 21 mil moradias foram entregues pelo Minha Casa Minha Vida. Houve, ainda, a criação de 303 mil postos de trabalho, e 372 mil famílias atendidas pelo Bolsa Família. Além disso, 113 novas UBSs foram construídas ou contratadas e 244 ampliadas ou reformadas.

Lula relatou as ações que adotará, num novo mandato, para estimular o crescimento da economia, recuperar o desenvolvimento e estimular a geração de emprego. Ele destacou a retomada das obras da construção civil, com projetos como Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, Cisternas, além de reiniciar obras do PAC que estão paralisadas.

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