Em 2022, América Latina e Caribe tinham 43 milhões de pessoas com fome 

Número corresponde a 6,5% da população dessa região, segundo a ONU. Naquele ano, Brasil tinha mais de 21 milhões com fome, situação que vem sendo enfrentada pelo atual governo

Foto: S. Modola/ACNUR

A América Latina e o Caribe tinham, em 2022, 43,2 milhões de pessoas sofrendo com a fome, o equivalente a 6,5% da sua população, e 247,8 milhões vivenciaram insegurança alimentar moderada ou grave. E, entre 2020 e 2021, o custo de uma alimentação considerada saudável aumentou 5,3% na região. Os dados fazem parte do relatório “Panorama Regional da Segurança Alimentar e Nutrição 2023”, das ONU, divulgado nesta semana.

Para Mario Lubetkin, vice-diretor e representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, “os números da fome na nossa região continuam preocupantes. Vemos como nos distanciamos cada vez mais do cumprimento da Agenda 2030 e ainda não conseguimos melhorar os números anteriores à crise desencadeada pela pandemia da Covid-19”. 

Ele acrescentou que a região “enfrenta desafios persistentes como a desigualdade, a pobreza e as mudanças climáticas, que reverteram o progresso na luta contra a fome em pelo menos 13 anos. Este cenário nos obriga a trabalhar juntos e a agir o mais rápido possível”.

Leia também: Famílias chefiadas por mulheres negras são mais atingidas pela fome

Em meio a esse cenário, as mulheres estão mais vulneráveis do que os homens. No que diz respeito à insegurança alimentar, esse segmento da população é nove pontos percentuais maior do que a fatia masculina. 

Quanto às áreas mais afetadas, as rurais seguem enfrentando as maiores dificuldades. “Em 2022, a insegurança alimentar moderada ou grave nas zonas rurais era 8,3 pontos percentuais superior à das zonas urbanas. Mais uma vez, são as populações rurais que ficam para trás e por isso devemos prioriza-las em nossos programas e políticas públicas”, disse Rossana Polastri, diretora regional do Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) para a América Latina e o Caribe. 

Sobrepeso e desnutrição

Devido à dificuldade de acesso a uma alimentação balanceada e de qualidade, a América Latina e o Caribe registram níveis de sobrepeso e obesidade superiores às estimativas globais, com 8,6% das crianças menores de cinco anos apresentando sobrepeso. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o sobrepeso e a obesidade responderam por 2,8 milhões de mortes por doenças não transmissíveis em 2021 nas Américas. 

No outro extremo, o relatório aponta que alguns países ainda apresentam uma alta prevalência de atraso no crescimento em meninos e meninas com menos de 5 anos de idade devido à desnutrição. A nível regional, este valor atingiu 11,5%. Entre 2000 e 2012, a prevalência diminuiu cerca de 5 pontos percentuais, enquanto entre 2012 e 2022 a redução foi de apenas 1,2 pontos percentuais.

Na avaliação de Garry Conille, diretor regional do Unicef para a América Latina e o Caribe, “a desnutrição e o sobrepeso infantil são duas faces da mesma moeda e requerem uma abordagem abrangente. O excesso de peso infantil aumentou de forma alarmante nas últimas duas décadas, ameaçando a saúde e o bem-estar das crianças. Por sua vez, a desnutrição infantil prevalece na região, afetando principalmente as populações indígenas, afrodescendentes e rurais”. 

Brasil na luta contra a fome

Após anos de luta para garantir a alimentação básica à população, o Brasil deixou o mapa da fome da ONU em 2014, graças, principalmente, ao programa Bolsa Família. Porém, em meio à destruição de políticas públicas, sobretudo no governo de Jair Bolsonaro, a crise econômica e a pandemia, a situação voltou a piorar e o país retornou àquela triste marca em 2022. 

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2022, 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado de insegurança alimentar moderada, que é quando possuem dificuldade para se alimentar. O levantamento também aponta que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave, caracterizado por estado de fome.

Leia também: Governo anuncia mais R$ 250 milhões para Programa de Aquisição de Alimentos

“O país sofreu muito nos últimos três anos pela falta de cuidado e atenção com os mais pobres. Se tornou comum ver pessoas passando fome, na fila por ossos e catando comida no lixo para se alimentar. Isso foi a quebra e interrupção de um trabalho iniciado pelo presidente Lula em seus primeiros governos e que trouxe grandes avanços nesta área”, disse, recentemente, o ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome.

Para enfrentrar essa situação, o governo Lula tem apostado numa série de medidas. Entre as já adotadas está a retomada do Bolsa Família, com pagamento mínimo de R$ 600 para mais de 21,4 milhões de famílias. Os beneficiários também são contemplados com o pagamento de R$ 50 por criança de até seis anos de idade, além de outros benefícios para crianças de oito a 11 anos e para gestantes, entre outros. 

Leia também: Lula reafirma disposição para combater a desigualdade em nível mundial

Ao mesmo tempo, para melhorar a qualidade e o acesso à alimentação,  foram retomados programas como o de Aquisição de Alimentos (PAA), com investimentos de mais de R$ 900 milhões neste ano, e o de Alimentação Escolar (PNAE), que tem previsão orçamentária de R$ 5,5 bilhões em 2023. O objetivo é adquirir produtos saudáveis provenientes da agricultura familiar e destina-los a famílias de baixa renda e à merenda escolar. 

Estudo feito pelo Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), divulgado em setembro, mostrou que ao menos três milhões de famílias já saíram da pobreza graças ao Bolsa Família em seis meses.

Além de medidas dirigidas ao combate à fome, também contribuem diretamente para mudar esse cenário a melhora e o desenvolvimento da economia nacional. A taxa média de desemprego no Brasil foi de 7,7% no trimestre móvel entre julho e setembro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), menor nível desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2015. 

Ainda de acordo com o IBGE, o grupo de alimentação e bebidas (-0,31%) apresentou, em outubro, queda pelo quinto mês consecutivo, em grande parte devido ao recuo nos preços da alimentação no domicílio (-0,52%). E o preço da cesta básica também apresentou queda em 16 capitais do país entre julho e agosto, de acordo com o Dieese.

O fim da fome é bandeira antiga do presidente Lula. Na celebração dos 20 anos do Programa Bolsa Família, realizada no dia 20 de outubro, ele declarou: “Até o dia 31 de dezembro de 2026, nós vamos acabar com a fome nesse país. Vamos fazer as pessoas comerem três vezes ao dia e, se quiserem comer quatro, que comam”.