A próxima visita de Lula a Pernambuco
Lula em Pernambuco é um filme que nunca para de passar. É o cinema do Recife, onde o povo entra na tela e participa da ação
Publicado 15/07/2022 07:00 | Editado 14/07/2022 20:35

No momento em que escrevo, ainda estamos em 14 de julho de 2022. Mas já se anuncia, como uma injeção de resistência para todos os pernambucanos, que Lula vem aí, que ele está voltando. Então já nos pomos a esperar pelo dia, em 19 no sertão, em 20 no Recife.
Lula em Pernambuco é um filme que nunca para de passar. É o cinema do Recife, onde o povo entra na tela e participa da ação. Mas que filmes, que epopeias de amor político despertam e passam a sua presença entre nós? Vemos Os Companheiros ou Eles não usam black-tie? Se assim fosse, o filme seria mais relacionado à história do trabalhador Luiz Inácio Lula da Silva. Mas penso que o filme de Lula, que não para de passar nestes tempos sombrios, é O Grande Ditador, de Charlie Chaplin. E por quê? No filme, Chaplin dá um discurso de esperança, que projeta o fim do fascismo para multidões que se encontram na angústia e desespero:
“Mesmo agora que a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora, milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que faz o homem torturar e prender pessoas inocentes.
Aos que me podem ouvir eu digo: “Não se desesperem!” O sofrimento que está entre nós agora é apenas a passagem da ganância, a amargura de homens que temem o progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo.
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Vocês, o povo, têm o poder — o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade! Vocês, o povo, têm o poder de fazer desta vida livre e bela, de fazer desta vida uma aventura maravilhosa.
Portanto — em nome da democracia —vamos usar desse poder, vamos todos nos unir! Vamos lutar por um mundo novo, um mundo decente, que dê ao homem uma chance de trabalhar, que dê um futuro a juventude e segurança aos idosos”.
O Grande Ditador pode ser o filme, porque as palavras acima são dignas de Lula e destas horas. Mas antes, na saudação ao futuro presidente, qual cântico coletivo poderia ser cantado pela multidão? Para os recifenses, poderia e poderá ser um frevo, ou frevos. Mas de quem, de Capiba ou de Nelson Ferreira?
A “Evocação número um” poderia ser cantada em mais uma das infinitas, necessárias e belas vezes
Ou “Madeira que cupim não rói” que Ariano Suassuna tanto gostava de cantar nos palanques
Não temos que escolher entre duas belezas. Os dois frevos cabem em momentos diferentes. Mas se houver dúvida, como ponto de pacificação geral, Lula bem poderá ser saudado pelo imortal Hino de Pernambuco:
É história e presente. Antes, em 2010 quando esteve no Recife, ouvimos pelo microfone Lula contendo o choro. Na plateia, milhares de ouvintes o copiavam. Ali, a fala de Lula durou 33 minutos. Cerca de oitenta mil pessoas estavam no Marco Zero da cidade, com emoção e verdade no reencontro do presidente com a gente que o ama. E carinho e coragem e pulsar de afetos são coisas que mexem nos nervos até das pedras.
Naquele dia, se os repórteres não olhassem a multidão à distância, teriam visto no interior do povo cadeirantes pedindo passagem, senhoras velhinhas apoiadas nos netos, indivíduos cegos a tatear com suas bengalas, jovens, muitos jovens, negros, muitos negros, negros na pele e no peito, que ouviam sérios, com absoluta atenção o presidente que lhes dizia, apontando para um menino da favela que toca violino: “Ele, Daniel, só queria uma oportunidade”.
Nesta sua volta agora, diante dos homicídios, crimes e cerco fascistas no Brasil, é impossível não lembrar o que Lula falou, quando amargou uma injusta prisão:
“Eu sou um construtor de sonhos. Sonhei que era possível um metalúrgico, sem diploma, cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados cuidaram da educação. Sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades do país. Daqui a pouco vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela, nascidos na periferia”
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Enfim, ou dizendo melhor, por enquanto: para o fenómeno da existência do maior líder popular da América Latina, para a sua vida, bem cabem os versos finais de Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto:
- “— Ô seu Lula, retirante,
- deixe agora que lhe diga:
- eu não sei bem a resposta
- da pergunta que fazia,
- se não vale mais saltar
- fora da ponte e da vida;
- nem conheço essa resposta,
- se quer mesmo que lhe diga
- é difícil defender,
- só com palavras, a vida,
- ainda mais quando ela é
- esta que vê, Severina
- mas se responder não pude
- à pergunta que fazia,
- ela, a vida, a respondeu
- com sua presença viva.
- E não há melhor resposta
- que o espetáculo da vida:
- vê-la desfiar seu fio,
- que também se chama vida,
- ver a fábrica que ela mesma,
- teimosamente, se fabrica,
- vê-la brotar como há pouco
- em nova vida explodida;
- mesmo quando é assim pequena
- a explosão, como a ocorrida;
- como a de há pouco, franzina;
- mesmo quando é a explosão
- de uma vida Severina”.
E mais não podemos falar.