Cícero João de Lima, de nome artístico Peneira, é o dono do melhor bar de Olinda nos últimos tempos. Nos Quatro Cantos da cidade, o seu bar possui desenhos de J. Borges nas paredes e pintores de talento que frequentam suas mesas e quadros à vista de todos. Ele próprio, o Peneira, é bonachão, mulato à maneira de Caymmi, quase Zen.
As informações na internet falam que a Tropicália mudou o cenário musical brasileiro e influenciou outras áreas, como por exemplo, as artes plásticas e o cinema. Ela encontrou eco em boa parte da sociedade que, ainda que sufocada pela censura da ditadura militar, aplaudiu com entusiasmo as suas manifestações tanto nos festivais de Música, quanto nas artes cênicas. A consolidação veio com um álbum específico, lançado em Julho de 1968: Tropicalia ou Panis Et Circencis, falam os sites e sítios.
Nesta semana, a revista Época publicou uma boa reportagem do repórter Danilo Thomaz O título já indicava o que viria: “Cabo Anselmo, famoso agente duplo da ditadura, agora é palestrante de direita”. No interior do texto, Danilo Thomaz escreveu sobre a fala do palestrante:
No mais recente 12 de julho, o mundo inteiro comemorou o dia do nascimento de Pablo Neruda. No Brasil, passamos ao largo e fundo em nossa ignorância. O que é mais um sintoma dos tempos bárbaros que atravessamos. Para que poesia? Para que lembrar um poeta comunista, ainda que dos maiores da civilização? Então recuperemos o que sempre nos falou a poesia de Pablo Neruda a seguir.
Copio do ótimo livro “Copas ganhas e perdidas”, de Pedro J. Bondaczuk.
As relações tortas entre Copa do Mundo e ditadores não foram exclusivas do Brasil. Da América Latina à Europa a utilização política do futebol foi a regra. Mas há pelo menos um caso que reúne coragem e brilho em um gol lindo, maior que o de todos atletas juntos até hoje. Recupero um texto sobre o tento do gênio a seguir.
Todos nós já sabíamos do uso, para efeito de propaganda política, da seleção brasileira de futebol. Sabíamos também da sua interferência até na escalação de jogadores, quando Médici impôs Dario ao time da Copa. E a consequente demissão do grande João Saldanha. Mas não sabíamos disto, com provas vivas, de excluir e perseguir geniais jogadores por motivo ideológico.
Nelson Rodrigues já havia escrito, com todo seu gênio e cinismo, que a seleção brasileira de futebol era “a pátria em calções e chuteiras, a dar rútilas botinadas, em todas as direções, como um centauro truculento”. Que cínico, nos dizíamos, que cínico e safado, praguejávamos, porque naquele ano de 1970 a distância e o distanciamento não eram possíveis.
Segundo notícia na imprensa, a opinião de alguns jovens é que a ditadura no Brasil foi coisa boa. Uma estudante de 18 anos teria declarado: "As pessoas dizem que era um tempo bom, que você podia ficar na frente de casa sem ser assaltado. As escolas eram tranquilas, hoje aluno bate em professor, as pessoas te roubam na sua casa….".
A partir da greve dos caminhoneiros, notícias e vídeos mostraram faixas com apelos bárbaros de intervenção militar. Diante da onda para a volta às trevas, houve historiadores e mestres que afirmaram ser a hora e a vez de outra intervenção: a do esclarecimento e aulas sobre o que foi e o que representou a ditadura brasileira. Cada um deve fazer o que pode para trazer luz nesta selva escura. Então começo uma série sobre aquele tempo, que o fascismo quer de volta.
É claro que na justa greve dos caminhoneiros a direita se infiltrou e tenta dirigir o movimento. Aí se incluem os representantes da categoria sem categoria. Isso quer dizer, patrões com ares de representantes de trabalhadores como novos pelegos, nunca jamais vistos tão despudorados diante das câmeras de tevê, entre nuvens de fumaça. “Fim da greve”, anunciaram governo e mídia do capital.