Certa vez, lá pelos meados de 2008, o querido e brilhante compositor Nelson Sargento bradou durante um bate-papo com o ex-presidente Lula: “Ô Lula, tem que ver esse negócio do direito autoral. Eu não ganho um tostão!”. Não é para menos o inconformismo do artista carioca, autor de músicas belíssimas como “Agoniza Mas Não Morre”, “A Noite Se Repete” e “Perdoa”.
Nesta semana, muitas foram as análises e reações aos fatos ocorridos no País. Expresso o que percebi e senti a partir da ausculta que fiz de diversas vozes e setores. A busca de sonhos e direitos, a multiplicidade de manifestações, que já se compõem de classes sociais diferenciadas, mostram que precisamos ir além do que fizemos até aqui.
Os milhares de tênis que marcham pelo asfalto das mais diversas ruas e avenidas das metrópoles brasileiras tem um objetivo. É injusto declarar que a multidão plural e diversificada não tenha princípios ao tomar as ruas, pois ela extravasa a angústia que está contida em muitas de suas famílias.
Os atos contra o aumento das passagens de ônibus nas capitais brasileiras, particularmente no Rio de Janeiro e São Paulo, acende a luz amarela: capitais que o sistema de transporte público ainda carece de um atendimento de qualidade está vendo sua sociedade civil ir às ruas. E com razão.
A aprovação do Estatuto do Nascituro (Projeto de Lei 478/2007) na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados, nesta semana, é um retorno mordaz e extremamente grave à Idade Medieval.
Era abril deste ano e chovia forte no bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. A jovem X. – vou nomea-la desta forma para preservar sua identidade –, de 29 anos, dirigia sua moto por uma das vidas mais movimentadas do bairro, quando uma colisão frontal num carro arremessou-a no asfalto, quebrando-lhe costelas, perna e braços.
O Brasil assistiu esta semana um atropelo do Parlamento na aprovação da nova Lei Antidrogas , que introduz modificações na lei do Sistema Nacional sobre Drogas e inclui mudanças pesadas e sérias no que tange a abordagem e o acompanhamento de pessoas dependentes.
A maratona de votações protagonizada pela Câmara dos Deputados e acompanhada pela sociedade nesta semana gerou uma mistura complicada de sentimentos entre nós, parlamentares e, entre os cidadãos que nos assistiam. Estranhamento, críticas, incompreensões, indignação, vergonha, determinação, exaustão e exigência de limite.
A letra da música Querelas do Brasil, composta em 1978 por Maurício Tapajós e Aldir Blanc, também cantada pela saudosa e formidável Elis Regina, é uma verdade que nos desafia todos os dias. O avanço democrático, somado às novas tecnologias, deve provocar uma profunda reflexão sobre a interação e fortalecimento da difusão e fruição da diversidade cultural brasileira, a potencialização da pluralidade do pensamento e da liberdade de expressá-lo.
Em meio à poeira e tiros zunindo no ar, em 2010, policiais militares entravam rapidamente na favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em direção ao topo de um dos morros.
Dia desses, passei em frente a uma casa de espetáculos, ali no Centro do Rio de Janeiro e mirei a tabela de preço do admirável estabelecimento. “R$ 250”, dizia o anúncio voltado para a rua, a quem quisesse parar para lê-lo.
Os olhos apertados, a postura encurvada e a mão no ar. Apontando para o alto, em gesto quase que ensaiado, um pastor neopentecostal se vira para uma multidão, dentro de uma igreja e esbraveja: “Um anjo enviado por Deus virou o manche do avião onde estavam os Mamonas Assassinas. Ele libertou nossas crianças de ouvir aquela música ao jogá-los no meio do morro”.