Em 2003, na Itália, num dos congressos do Partido da Refundação Comunista Bertinotti discursava em favor dos movimentos como estratégia política renovadora: o "movimentismo". Dizia ele que os comunistas levavam “chumbo sobre as asas”. Ao meu lado, um operário maduro comentou com o camarada ao lado: “se ele insiste tanto em movimentos, porque não fala principalmente do movimento dos trabalhadores?” – uma bela ironia.
A onda deletéria neoliberal esvaziou a democracia em todo o mundo e tornou a Economia diretamente em Política, sem maiores mediações, para impor os interesses do sistema financeiro.
Como se sabe, está amplamente questionada hoje pela ofensiva liberal o papel das classes trabalhadoras para qualquer papel transformador da sociedade no rumo do socialismo. A mistificação do fim do papel central do proletariado não esconde a dura realidade da luta de classes promovida pelo capitalismo em termos de superexploração e opressão, precariedade e intermitência nas relações de trabalho, alienação e fragmentação da identidade social.
Suponha um amontoado de fatos, alguns promovendo a sobrevivência, outros a destruição; suponha ainda que eles se sobrepõem no tempo, de modo que o espectador no litoral da história não consegue saber ao certo se a maré ainda está virando: mesmo assim, se ele for suficientemente observador, notará uma onda que se eleva sobre todas as outras, e uma que assinala o primeiro malogro em alcançar aquele nível. J.M. Thompson, Napoleon Bonaparte
Dois fatos auspiciosos na novíssima conjuntura. Um foi a manifestação de domingo passado, na Av. Paulista, a segunda maior realizada desde o início da luta contra o golpe. Multidão de juventude trabalhadora e estudantil, muitos da periferia, trabalhadores sindicalistas e segmentos médios progressistas, média idade.
Uma determinada leitura da política brasileira tem sua chave heurística na categoria do patrimonialismo. Vai em geral associada ao clientelismo e populismo, e é considerada a maior chaga política nacional. A mais importante universidade do país, a USP, domina nessa interpretação sociológica. Mas o fenômeno não é superestrutural, provém das relações econômicas e sociais dominantes: nisso a crítica é menos furibunda.
Hoje inicia-se a campanha eleitoral dos candidatos a prefeitos e vereadores. Os 144 milhões de eleitores brasileiros, entre os quais 75,2 milhões (52%) são mulheres e 2,3 milhões (1,5%) têm entre 16 e 18 anos, escolherão seus representantes e prefeitos em 5570 municípios, entre cerca de 550 mil candidatos. O Brasil é uma democracia eleitoral de massas robusta.
O país está num grande impasse e envolvido em situação de emergência nacional. O impasse é para todos os lados envolvidos. O desfecho para os impasses não podem se dar à força, muito menos à base de intolerância e ódio. Dar trelas às provocações extremadas da direita nesse ambiente, e ampliar a ressonância delas pela mídia, são caminho para o caos.
O prefeito Fernando Haddad enviou importante projeto para eleição direta às subprefeituras. São Paulo, com 11 milhões de habitantes, representados por 55 vereadores, tem 32 subprefeituras, em geral fragilizadas, sem suficiente orçamento, poder resolutivo, acesso e participação popular, o que não possibilita maior descentralização da gestão.
A batalha contra o impeachment é cruenta, complexa, de duração e desfecho imprevisível. Nem se fale em subestimá-la. Com a velocidade dos desenvolvimentos em curso, será perdida se se estabelecer uma visão estanque e estática sobre os campos em confronto, ou se se desconhecer as mutações produzidas neles em cada uma de suas fases e etapas.
Já não coordeno o movimento de Conferências recém encerradas do PCdoB nos 26 Estados e Distrito Federal e mais de dois milhares de municípios. Mas em minhas novas responsabilidades continuo em intenso contato com o partido em todo o país, além de ter acompanhado diversas Conferências Estaduais e de capitais.